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"Somos exactamente iguais", diz Bolsonaro aos indígenas

Presidente brasileiro foi distinguido pelas suas políticas indígenas

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O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, usou um cocar de penas e reuniu indígenas para receber hoje uma medalha de reconhecimento atribuída pelo seu próprio Governo pelas suas políticas indígenas, rejeitadas pela maioria dos povos originários do Brasil.

"Somos exatamente iguais. Todos viemos à terra pela graça de Deus", disse Bolsonaro, com uma índia nos braços, ao receber a Medalha do Mérito Indígena, criada em 1972.

Segundo o Ministério da Justiça, que concedeu esta condecoração a Bolsonaro, trata-se de um "reconhecimento de seus importantes serviços, de caráter altruísta, relacionados ao bem-estar, proteção e defesa das comunidades indígenas".

"Vocês chegaram aqui muito antes de nós, mas com o tempo nos integramos", declarou Bolsonaro com um colorido cocar de penas ao se dirigir a dezenas de indígenas que compareceram à cerimónia.

"A única coisa que queremos é que você faça na sua terra o que fazemos na nossa", porque "somos irmãos, somos amigos e não somos diferentes", destacou em clara referência a um projeto promovido por seu Governo para liberar a exploração de recursos minerais e florestais em reservas indígenas.

A condecoração foi dada num momento em que o Governo brasileiro pressiona o Congresso a acelerar a discussão desse projeto, que encontra resistência da grande maioria dos povos indígenas, que temem o impacto ecológico da liberalização de atividades produtivas atualmente proibidas por lei em suas reservas.

Nas últimas semanas, Bolsonaro usou, entre outros argumentos, a falsa afirmação de que as terras indígenas são ricas em potássio e outros minerais necessários para produzir fertilizantes, que estão se tornando escassos devido às sanções económicas impostas à Rússia após a invasão da Ucrânia.

Bolsonaro assumiu o poder em janeiro de 2019 e, desde então, como havia prometido em sua campanha, não reconheceu novas terras indígenas e incentivou a mineração artesanal, na sua maioria ilegal e fonte de conflitos violentos e invasões das reservas.

Da mesma forma, o Governo reduziu progressivamente os orçamentos para a proteção dos povos indígenas, ao meio ambiente e às áreas protegidas.

Diante dessas políticas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), um dos maiores grupos representativos das etnias brasileiras, apresentou no ano passado uma acusação de genocídio contra o chefe de Estado perante o Tribunal Penal Internacional.

A Apib também anunciou que pretende recorrer à justiça para anular a homenagem de hoje ao Presidente brasileiro pelo seu próprio Governo.