A Guerra Mundo

Manifestante contra ofensiva interrompe telejornal russo

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Foto Twitter

Uma manifestante interrompeu hoje o telejornal de maior audiência na Rússia com um cartaz no qual criticava a ofensiva militar russa na Ucrânia, situação muito rara num país onde a informação é estritamente controlada.

De acordo com a Organização Não Governamental (ONG) de defesa dos direitos dos manifestantes OVD-Info, que identifica a mulher como Marina Ovsiannikova, funcionária da cadeia de televisão, a manifestante foi depois detida.

Ovsiannikova apareceu subitamente exibindo o cartaz durante o principal programa de informação da noite na mais poderosa cadeia de televisão na Rússia - Pervy Kanal - batizado de "Vremia" ("o tempo"), seguido por milhões de russos desde a época soviética.

"Parem a guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui estão a mentir-vos", podia ler-se no cartaz exibido pela manifestante passando atrás da apresentadora do programa, Ekaterina Andreïeva.

A mensagem continuava com "os russos são contra a guerra", junto ao desenho das bandeiras russa e ucraniana.

O cenário foi subitamente alterado pela estação, que passou a uma reportagem sobre hospitais, pondo fim à atuação da manifestante.

Em seguida, o canal difundiu um comunicado no qual indicava laconicamente que iria ser desencadeado um inquérito interno à ocorrência.

De acordo com a agência noticiosa Tass, a jovem mulher pode vir a ser acusada de "desacreditar as forças armadas russas", e condenada a 15 anos de prisão por aquilo que as autoridades russas consideram ser "falsas informações" sobre o exército.

A simples utilização da palavra "guerra" pelos media ou por particulares para descrever a intervenção militar russa na Ucrânia é passível de ação judicial.

O vídeo da manifestante propagou-se rapidamente nas redes sociais, e numerosos internautas saudaram a "coragem extraordinária" desta mulher, num contexto de brutal repressão contra toda a forma de dissidência.

Desde o início da ofensiva na Ucrânia, a 24 de fevereiro, milhares de manifestantes foram presos na Rússia, mais de 5.000 num só dia, a 06 de março.

Léonid Volkov, ativista próximo do opositor Alexeï Navalny, preso após ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato por envenenamento, afirmou na rede social Twitter que o seu movimento está disposto a "pagar qualquer multa" que seja aplicada a Ovsiannikova.

Num vídeo realizado antes da ação na televisão, e difundido pela OVD_Info, a jovem mulher explica que o pai é ucraniano e a mãe russa, e que não consegue ver os dois países como inimigos.

"Infelizmente, trabalhei para a Pervy Kanal estes últimos anos, fazendo propaganda para o Kremlin. Hoje, tenho muita vergonha disso", admite, acrescentando ter vergonha de "permitir que as mentiras sejam difundidas na televisão, e que o povo russo seja zombificado".

Numa tentativa de controlar toda a informação sobre o conflito, as autoridades bloquearam a maioria dos meios de informação ainda independentes e as principais redes sociais, como o Twitter e o Facebook.

Em resultado deste controlo, a maioria dos russos apenas têm acesso à versão russa apresentada pelo Kremlin, como o Pervy Kanal, que descreve a ação belicista como "uma operação militar especial" que visa "desnazificar " a Ucrânia, e impedir um "genocídio".