Análise

País político dispensa madeirenses?

Fechamos a semana incrédulos. Lemos no ‘Observador’ que Rui Rio não está a ponderar indicar Alberto João Jardim para o Conselho de Estado. A garantia é de fonte próxima do líder social-democrata, que assegura que a hipótese “nunca esteve em cima da mesa” – apesar de noticiada pelo ‘Público’ - e que o convite ao ex-presidente do Governo Regional da Madeira não consta dos planos do ainda presidente do PSD. Não é o único.

Fora dos planos dos social-democratas estão também hipotéticas alternativas insulares para liderar o PSD nacional. No congresso de há uma semana, Miguel de Sousa bem tentou lançar na corrida Miguel Albuquerque, com argumentos válidos e objectivos, o de ter vitórias no currículo e não estar arregimentado aos interesses centralistas. Só que ninguém pegou na deixa. Nem cá, coisa que dependeria da máquina e da alegada facilidade em influenciar os seus meios predilectos. Nem lá, apesar de Rui Rio ter esboçado um sorriso e soltado o elogio ao exemplo madeirense que basta copiar.

Faltou a vaga de fundo. Mas também vontade e determinação dos que são várias vezes desafiados a dar o salto e a enfrentar contextos menos afáveis, mas que ponderam em demasia ou exigem entrar na disputa eleitoral sem concorrência. O certo é que na hora do aperto ninguém se atreve a hipotecar o futuro, a prescindir de mordomias domésticas ou a deixar as zonas de conforto, apesar de todos se gabarem que não há política sem risco.

Dá que pensar tamanha falta de ousadia política, que contrasta com tantas outras conquistas em áreas diversas. Comprovadamente é mais fácil um madeirense vestir a camisola de um grande de Portugal no futebol e marcar golos que evitam derrotas do que triunfar e ser referência na política nacional. Foi assim com Cristiano Ronaldo no Sporting ou com Ruben Micael no Porto. É assim com Henrique Araújo no Benfica. Será assim com qualquer jogador talentoso que, sendo ou não fruto da política desportiva regional, tenha hipótese de sair bem cedo da ilha, a que importa juntar a sorte de estar bem rodeado e a oportunidade para mostrar o que vale.

É mais fácil uma madeirense ganhar um concurso de talentos - Vânia Fernandes, na Operação Triunfo de 2008 e Micaela Abreu no ‘Got Talent Portugal de 2016 que o digam! - ou até um ‘reality show’, como aconteceu com Zena Pacheco ao arrecadar 50 mil euros no ‘Big Brother - A Revolução’ do que liderar um partido do arco do poder neste País.

É mais fácil um madeirense ser cardeal e papável, mesmo que haja todo o percurso de trabalho e dedicação ao saber, como acontece com Tolentino Mendonça, do que haver um sobredotado nosso conterrâneo que seja ministro de Estado.

É mais fácil um madeirense ser líder do maior grupo hoteleiro nacional do que primeiro-ministro.

Isto de ter notoriedade na política nacional não depende de telefonemas para os ‘760...’ e outras linhas de valor acrescentado que servem para expulsar ou para valorizar. Isto de afirmar credibilidade no plano inclinado também não vai lá com as ladainhas de um ou outro comentador avençado ou com artigos de opinião esporádicos na imprensa nacional. Isto de ter um madeirense a governar no País, por mérito e competência, nunca será realidade enquanto houver estranhos complexos, execráveis invejas e uma preocupante intolerância.