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Morreu o realizador, crítico de cinema e programador Lauro António

O cineasta português morreu esta quinta-feira vítima de um um ataque cardíaco fulminante.

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O realizador e programador de cinema Lauro António morreu hoje, aos 79 anos, disse à agência Lusa fonte da família.

Segundo o filho, Frederico Corado, Lauro António sofreu "um ataque cardíaco fulminante" hoje de manhã em casa, em Lisboa.

Não há ainda informações sobre cerimónias fúnebres.

Crítico de cinema, programador, ensaísta e realizador, Lauro António estava atualmente ligado à Casa das Imagens, em Setúbal, um espaço cultural criado a partir de uma doação que o crítico de cinema fez à autarquia.

Em 2021, em declarações à agência Lusa, Lauro António explicava que a Casa das Imagens iria contar com cerca de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes e outros documentos, para consulta pública, para que não se dispersasse ou caísse no esquecimento.

Lauro António dedicou a vida aos vários ofícios em torno do cinema, da crítica à realização, da programação ao ensino.

Segundo o filho, Frederico Corado, Lauro António estava a preparar um novo ciclo de programação na Casa das Imagens, em Setúbal, dedicado ao antigo cinema Apolo 70, de Lisboa.

Nascido em Lisboa, a 18 de agosto de 1942, Lauro António de Carvalho Torres Corado passou a infância e parte da adolescência em Portalegre, que terá sido decisiva na forma como se aproximou da escrita e da cultura, em particular do teatro e do cinema.

De regresso a Lisboa, em 1958, formou-se em História e ainda nos tempos de faculdade, na década de 1960, começou por ser crítico de cinema nos jornais República e Diário de Lisboa, na revista Plateia, que estenderia depois à revista Opção, ao Diário de Notícias, a A Capital e ao semanário Se7e, entre outras publicações. Foi membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa e dirigente do ABC Cine-Clube.

Depois de ter experimentado a realização durante o serviço militar, Lauro António fez o primeiro filme profissional em 1975, quando rodou a 'curta' documental "Vamos ao Nimas", sobre os cinemas de Lisboa.

O caminho atrás das câmaras fez-se anos depois com a adaptação do romance "Manhã Submersa" (1980), de Virgílio Ferreira, possivelmente o mais conhecido filme da carreira de Lauro António como realizador.

No "Dicionário de Cinema Português", Jorge Leitão Ramos escreve que, com "Manhã Submersa", Lauro António tornou-se "um nome seguro da geração dos anos 70", mas as obras seguintes, como a série "Histórias de mulheres" e "Vestido cor de fogo", não tiveram tanta visibilidade.

A intensa atividade em torno do cinema fê-lo programar para várias salas de cinema, colaborar com a RTP e a RDP, publicar ensaios, dirigir festivais de cinema em Portalegre, Seia, Viana do Castelo e em Famalicão, e lecionar, consecutivamente, em cursos sobre cinema.

Nos anos 1990, estreou-se como encenador, com a peça "Encenação", no Teatro de Animação de Setúbal, mas ficou mais conhecido sobretudo pelo programa televisivo "Lauro António apresenta", título que recuperou para um blogue que atualizava com regularidade com crítica sobre cinema.

É autor de livros em torno do cinema, como "Cinema e Censura em Portugal" e "O Cinema entre Nós".

Em 2018, Lauro António recebeu o Prémio Carreira do Fantasporto, foi distinguido pela Academia Portuguesa de Cinema com um prémio Sophia de carreira e condecorado pelo Presidente da República com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

Lauro António estava atualmente responsável pela Casa das Imagens, em Setúbal, um espaço cultural criado a partir de uma doação que o crítico de cinema fez à autarquia.

Do acervo da Casa das Imagens fazem parte cerca de 50 mil livros, filmes, fotografias, cartazes e outros documentos, sendo apenas uma parte do daquilo que Lauro António quis disponibilizar para consulta pública, para que não se dispersasse ou caísse no esquecimento, como contou em 2021 à agência Lusa.