Crónicas

Portugal e o perigo da insegurança

O nosso país é definitivamente um destino que está na moda para muitos turistas. Já o era antes da pandemia e voltou a ser agora que a nossa vida normalizou e ninguém quer saber do Covid-19. Só Lisboa tem mais turistas do que o Brasil inteiro, o que para muitos parece difícil de acreditar. Uma das principais razões tem a ver com a segurança. Se perguntarmos a alguém que nos venha visitar, algumas das características que mais apreciam por cá e que foram razão da escolha para passar umas belas férias, invariavelmente é referida a forma como as pessoas andam à vontade na rua, seja de dia ou de noite. Até há bem pouco tempo Portugal tornou-se um dos principais “produtores” de bem estar, de segurança nas suas mais diversas formas. É por isso que cada vez mais a classe alta brasileira, mas também franceses, suecos e de muitas outras nacionalidades nos escolhem para investir ou passar a sua reforma. Lembro-me de estar num restaurante em Lisboa, junto ao rio, que tem mesas corridas e desconhecidos sentam-se à mesma mesa, de um casal de americanos ir à casa de banho ao mesmo tempo (não me perguntem porquê) e deixar uma máquina fotográfica (que pelo ar devia custar uns bons milhares de euros) em cima da mesa. Passados uns minutos, vejo-os a correr de regresso à mesa, ele meio ofegante, como se tivesse acabo de correr uma maratona. Quando chegaram à mesa respiraram de alívio e sorriram um para o outro. Percebi que achavam algo surreal terem deixado uma máquina daquele valor numa mesa partilhada e ela ainda estar no mesmo sitio quando regressaram.

Portugal à excepção de algumas zonas bem específicas é um país seguro para viver e visitar. As pessoas são pacíficas, ninguém pega numa pistola e é raro pegarem numa faca para resolver quezílias. Pode-se circular à vontade, não nos sentimos ameaçados nem em perigo. Eu que já vivi no Rio de Janeiro sei bem o valor que isso tem. Por lá, como noutros países, a partir de uma certa hora não era obrigatório parar no semáforo vermelho se não viesse lá ninguém, os assaltos eram o pão nosso de cada dia e até a polícia tinha a fama de mandar droga para dentro do carro dos gringos para os acusarem quando estes não queriam dar um presente. Mesmo em Moçambique onde passei 2 dos melhores anos da minha vida a polícia era uma ameaça constante e sentia-me permanentemente em perigo, sempre preparado para alguma eventualidade e a olhar desconfiado para todo o lado sobretudo à noite. Quem sempre viveu por cá nem tem ideia da importância que isso tem. Sempre vivemos assim e não conhecemos outra realidade e por isso é para nós normal viver em paz e harmonia. A realidade é que esse paraíso está a mudar aos poucos. Talvez não na Madeira e nos Açores porque são ilhas mas no continente vamos assistindo a um depauperar desse bem tão inestimável. Todos os dias começam a aparecer relatos de assaltos ou de situações estranhas e parece que ainda não acordámos para esse fenómeno.

Esta semana fui ao Porto com uns amigos, deixámos o carro num parque ao ar livre e quando regressámos de um copo num bar tínhamos o vidro do carro partido e tudo o que estava lá dentro de valor usurpado. Dizem-me que tem sido habitual por aqueles lados, que cada vez há mais assaltos e que as ruas andam inseguras. Ainda esta semana, ao almoçar com um amigo da polícia, relatou-me o caso da sobrinha que tinha sido drogada com uma substância qualquer, durante o dia e lhe tinham levantado o dinheiro com o cartão de multibanco. Parece que é prática cada vez mais costumeira e que sucedem-se casos parecidos. A polícia cada vez tem mais constrangimentos e limitações e o ordenado continua miserável, não podem fazer nada que acabam recorrentemente acusados de uso excessivo da força ou de mostrarem a pistola a alguém como se fosse um crime e ela não estivesse lá para isso. Com o enfraquecimento das nossas forças de segurança e a chegada de cada vez mais estrangeiros, habituados a outras culturas e práticas, vai-se criando o cenário perfeito para o desenvolvimento e a proliferação da criminalidade. O problema é que ela uma vez instalada torna-se depois muito mais difícil de erradicar.

Com a mais que previsível chegada de uma crise, com a inflação e o aumento generalizado dos preços, chega também a pobreza, a diminuição do poder de compra e o decréscimo da qualidade de vida. É normalmente nestas alturas que pessoas desesperadas e alguns artistas se viram para o mais fácil, o roubo e a extorsão. Não se vislumbram por isso bons tempos. É essencial começarmos a tomar um bocadinho de atenção para esse nosso bem inestimável que é a segurança e percebermos o que podemos e devemos fazer por ela. Não há melhor sensação na vida do que poder sair de casa tranquilo sem o medo permanente de que algo possa acontecer a qualquer momento. Se perdermos isso perdemos muito do que é a nossa qualidade de vida. É bom estarmos atentos aos sinais e agir enquanto é tempo. Se perdermos a nossa segurança perdemos quase tudo e o dinheiro por muito que seja passa a ter menos valor.