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Os nossos Tubarões Azuis (seleção cabo-verdiana de futebol) ficaram pelo caminho no CAN 2022, com a derrota por dois a zero, frente a poderosa equipa do Senegal. Quem viu a partida reparou que a arbitragem foi parcial e inglória, reeditando a corrupção no futebol, pão nosso de cada dia (na África, na América, na Ásia, na Europa e no Resto do Mundo). Corrupção, a todos os níveis, e que tem em permanente suspeita a própria FIFA e as suas remissivas. O tal “apito malandro”, que há muito assaltou o chamado desporto-rei, às vezes também acontece connosco. É lamentar que as verdades dos jogos sejam tão condicionadas, para não dizer roubadas...

O pior de tudo nem foi a derrota em si dos nosso “bravos jogadores”, pois nas quatro linhas perde-se e ganha-se, em dignidade e beleza. O pior de tudo é o preconceito de alguma gente, a aproveitar a ladroagem futeboleira, ora universal, para destilar ódio à África, como se este continente fosse o reduto-mor da corrupção e da roubalheira. Não se pode continuar a trocar nuvem por Juno, em prol de certas mentes neocoloniais, em negação da nossa pertença africana, hoje decantada em versões frágeis do nosso processo identitário.

Adiante: se formos ao Índice de Percepção da Corrupção 2021 (em que Cabo Verde ocupa o 2º melhor lugar em África e na CPLP, assim como o melhor nos PALOP e na CEDEAO, mas a posição ainda 39 a nível mundial), vamos notar que o mal se distribui pelas aldeias globais. Voltando ao futebol, convido-vos a ler “Futebol ao Sol e à Sombra” (Antígona), de Eduardo Galeano. Para que organizemos a mente sobre o mal globalitário!

Obituário. Olavo de Carvalho, recém falecido e enlutado alhures, não passou de um imbecil e demagogo. Ele, guru da fúria obscurantista, negava, entre outras coisas, a gravidade da Covid-19, descrita como uma gripezinha, e a gravidade da Terra, que, amiúde, jurava plana. Mais: era garoto-propaganda, sabe-se lá a soldo de quem, da cloroquina e da hidroxicloroquina, logro de um dito tratamento precoce que levou a muita tragédia humana.

Alguém, inclusive entre nós, apelidava-o de filósofo, mas faltou ali lastro intelectual e epistémico, senão mesmo pensamento estruturado, para tanto. O extinto não acrescentou nada de jeito, antes pelo contrário, semeou vento e glorificou a tempestade. Não faço loas à morte de nenhum ser humano, por facínora ou maníaco que seja, mas, convenhamos, respeito muito as minhas lágrimas, como diria Caetano Veloso.