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Último dia para visitar a exposição 'Pulmão de Papel' na Capela da Boa Viagem

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Esta sexta-feira, 20 de Agosto, é último dia para visitar a exposição intitulada 'Pulmão de Papel' de Teresa Jardim, que está em exibição desde o dia 18 de Junho na Capela da Boa Viagem, no Município do Funchal. 

Desde o início da exposição, a Capela já recebeu mais de três centenas de visitantes.

Foi através do ciclo de exposições 'Partilhas Francas' que várias referências e testemunhos da cultura material e artística estiveram, com os seus projectos, em exibição em diversos núcleos museológicos pertencentes ao Município do Funchal, neste caso em particular, na Capela da Boa Viagem que está sob orientação do Museu Henrique e Francisco Franco.

Designada como 'Pulmão de Papel', a exposição desta artista madeirense conta com a presença de diversos objectos e imagens, cujo repositório faz parte do altar da Capela da Nossa Senhora do Monte das Oliveiras. A intitulação dada a este corpo expositivo interliga o pulmão ao ar, ar [oxigénio] necessário para a sobrevivência e subsistência do ser humano, e ao papel associando-o ao conceito de fragilidade, à sua própria fragilidade enquanto humana e à fragilidade da ilha, descrevendo-a como um corpo insular propenso ao desastre. A Ilha da Madeira é representada, segundo Teresa Jardim, como um território de referência, matéria poética e suporte de debate entre o humano e o natural.

Teresa Jardim, em entrevista, revela que esta iniciativa lhe permitiu “articular a minha memória com a memória deste local porque é uma capela que não tem culto, desluzo, mas que tem marcas muito fortes ainda naquilo que é, nomeadamente o altar”. Há “todo um conjunto de aspectos que fazem com que este não seja um espaço convencional de exposição”, mas sim “um espaço exigente, um espaço que apela desde logo ao diálogo, ao diálogo daquilo que queremos dizer ou fazer experienciar com o próprio lugar e isso é sempre desafiante, eu gosto imenso desses desafios dos lugares”.

A artista destaca uma das suas peças que já esteve expostas em diversos lugares, mas nunca perdeu a sua identidade, nem o seu título: “procuro que nos sítios onde a instalo ela ganhe a experiência desse lugar e que comunique/expresse novas coisas, novas realidades, novas formas de a ver e a experienciar”. Teresa Jardim refere-se a uma peça construída através de papel que é, na verdade, “o mote do título da exposição”. “Eu trabalho muito com o papel, o papel é frágil, tem uma grande fragilidade. Ele aqui está assente ou emparelhado aqui como se fossem pedras, umas resmas sobre as outras, o que faz de uma coisa frágil também algo forte”.

Com esta exposição a artista pretende proporcionar a todo o seu público novas formas de pensamento. Afirma ainda que o facto de ter nascido e vivido na Ilha da Madeira trouxe “não de forma directa, mas de forma indirecta algumas marcas no meu trabalho, mas também quero que isso seja visto de uma forma critica. Critica naquele sentido de pensada, de também estabelecer formas de pensamento. Porque nos vivemos numa ilha que é por um lado tem uma grande beleza, mas por outro tem aspectos muitos complexos, é forte, mas também é frágil. Basta dar umas chuvadas ou uns incêndios para sentirmos o quanto é frágil esta casa, esta ilha onde nos vivemos que também que se pode estipular por planeta”.

Teresa salienta uma outra obra, uma “espécie de poço/casa, digamos, ao socalco de forma circular” que “eu remato com livros de poesia escritos por mulheres de diferentes partes do planeta”. A artista refere-se a obras de: Luiza Neto Jorge, Sylvia Plath, Wislawva Symborska, Adília Lopes, Ana Hatherky; Adélia Prado, Sophia de Melo Anderson, Anna Akmaátova, Fiama asse Pais Brandão, Cecília Meirelles, Ana Marques Gastão, Maria Teresa Horta, Amália Bautista, Alejandra Pizarnick, Emely Dickinson, Maria Vitória Atencia. A “coexistência entre a criação de homens e de mulheres, tanto na criação artística como na relação com o trabalho ainda não é vista/vivida, não acontece da melhor forma até em termos planetários”. Este foi um dos motivos que levou Teresa a apresentar/seleccionar apenas obras publicadas por mulheres. A desigualdade de género, para a artista, continua a ser um problema, não só na sociedade madeirense, como também a nível mundial.

O contacto com a natureza, a experiência de vida e a poesia foram também temas realçados pela artista. “Tenho desenho, pintura a acrílico e colagem sobre telas que, no fundo, se aproximam da ideia de poesia visual na medida em que eu escrevo de forma solta e essa escrita solta vai configurando montanhas. Há aqui bichos, há parques, há água, portanto, há um conjunto de coisas que surgindo, não só escrita, mas também desenhada, desenhadas pela própria escrita, que depois eu faço interagir/interligar com a pintura e com o desenho”.

Por fim, a artista realça o quão importante são, para ela, os livros. “Para mim um livro, na sua forma mais tradicional, ainda é a forma mais rica que eu conheço de guarda, conservação e comunicação humana de transposição no tempo. E uma espécie cápsula manipulada que guarda saberes e coisas geralmente interessantes, mas que depois se prolongam no tempo”. Nesta exposição, Teresa Jardim, utiliza materiais diversificados que, na sua perspectiva, coligem ideias e novas formas de pensamento.

Sobre a artista 

Teresa Jardim nasceu no Funchal em 1960. É licenciada em Artes Plásticas/Pintura e em Design de Projectação Gráfica - ISAPM e ISAD/Universidade da Madeira. Exerce funções como docente desde 1978/1979 e lecciona a unidade curricular de Desenho no Curso de Artes Visuais na Escola Secundária Francisco Franco. Tem exercido também educação artística informal. Nos anos 90 do século XX, complementou o projecto da expressão plástica A Casa das Cores.

Desenvolveu curadoria independente e diversas parcerias curatoriais das quais destaca: com Júlio Castro Fernandes, em 1986, a I Mostra da Circul’Arte (adentro da MARCA Madeira), com a participação de 56 artistas, abrindo espaço a criadores emergentes), e a participação de artistas da Madeira (Galeria da Circul’Arte), no Fórum de Arte Contemporânea, em Lisboa; com Graça Berimbau, em 1999,a colectiva de jovens artistas, Sinais de Água, no Museu de Portimão e Fundação da Juventude do Porto; com Gilberta Caires (pela DRAC), a colectiva Ao Largo das Ilhas, na Galeria Arco 8, em Ponta Delgada, Açores.

Desde 1976, participa em colectivas (mais de meia centena), com desenho, pintura, fotografia, instalação, performance e intervenções de arte pública. No recurso a múltiplos média, vem realizando dinâmicas em “campo expandido”, onde a poesia na sua vocação visuo-plástica e amplitude imersiva é parte integrante das concretizações.

Das exposições individuais, destaca: 1984 – porque te amo, Galeria ISAD; 1977 – Jogos de Adivinhação, Galeria da SRTC; 2001 – eu vivo aqui, Galeria da SRTC, funchal; 2011 – Alguns poemas dispersos e uma parede só para mim, Museu de Arte Contemporânea do Funchal; 2019 – este poema, Mudas. Museu de Arte Contemporânea da Madeira; 2021 – Dar a palavra, Galeria Espaçomar, Funchal.

Em poesia publicou os livros Anjos de Areia (1993) e Jogos Radicais (2010). Nos anos 80 do século XX, colaborou com o DN Jovem (Lisboa), e integrou o Anuário de poesia da Assírio & Alvim (1986); participou com poesia nas revistas Espaço Arte (ISAPM), Margem 2 (CMF), Cadernos Santiago, Eufeme, Lógos, Nervo, Telhados de Vidro.