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‘Terceira Paisagem’ para ver na Torre Miranda da CMF

Exposição estará patente até a próxima sexta-feira, 20 de Julho

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A exposição ‘Terceira Paisagem’ está patente na Torre Mirante, situada na Câmara Municipal do Funchal até a próxima sexta-feira, 20 de Agosto, as entradas são gratuitas. A exposição resulta da parceria entre dois artistas madeirenses, Hélder Folgado e João Almeida.

A designação ‘Terceira Paisagem’ advém de Gilles Clemente, jardineiro, botânico, entomologista e escritor francês que no seu manifest du tiers paysage (manifesto da Terceira Paisagem) levou Hélder Folgado e João Almeida a considerar a biodiversidade que se manifesta nos espaços intersticiais ou residuais à margem da actividade humana.

O trabalho incita a uma leitura do território através da modelação e colocação em evidência de uma espécie vegetal presente em abundância, a cana do reino, Arundo donax, originando, em simultâneo, especificidade na experiência do lugar, a Torre Mirante da Câmara Municipal do Funchal.

Manifesta-se enquanto potenciador de uma atmosfera específica que convoca a atenção para fora, mas também para dentro, para cima, mas também para baixo, numa relação que se pretende profícua, para reflectir sobre a paisagem, a biodiversidade nela presente e a fragilidade da sua subsistência. O corpo composto pelo material encontrado assume uma presença significativa no espaço o que determina uma tensão entre dois planos opostos definidos pela ressonância formal, ao mesmo tempo que invoca o movimento semicircular que o intersecta e estabelece uma franca relação ora com a orografia do Funchal ora com a imensidão do Atlântico, enfatizando a configuração de anfiteatro. A torre adquire uma nova forma de se relacionar com o exterior, reinventando-se enquanto lugar franco para metaforicamente firmar um observatório da paisagem.

 Em entrevista, Hélder Folgado revela que o projecto ‘Terceira Paisagem’ “é um conceito que vem do botânico, jardineiro, teórico e francês, Gilles Clemente, que faz uma análise a uma vida, em França, e faz referência essencialmente à margem, ao conceito de margem como sendo um território muito mais rico em termos de biodiversidade do que aqueles que são controlados pelo homem”. Foi através desta ligação que ambos os artistas se aliaram em prol deste projecto uma vez que consideravam que havia “linhas de análise que nos interessava pensar, nomeadamente a questão destes espaços que estão à margem ou os espaços intersticiais dado que, de alguma forma, tentamos transpor e analisar esses conceitos aqui, relativamente ao nosso território”.

João Almeida, também em entrevista, afirma que nesta exposição tentaram “fazer quase um simulacro de uma fortaleza que simultaneamente protege microcosmos de jardins interiores” simulando e representando “um pouco esta biodiversidade que está numa condição frágil de conservação e que também podemos interpretar como uma proteção dessa biodiversidade ou como uma ameaça constante, portanto, um território prestes a desaparecer”.

Os artistas realçam a vantagem de expor o seu projecto na Torre Miranda da Câmara Municipal do Funchal: “Nós trazemos um material que a sua forma é uma ressonância do espaço arquitectónico da Torre. Nós achamos que esta instalação, aqui, na Torre, é um espaço privilegiado uma vez que, a própria Torre, o próprio conceito de Torre, é um observatório da paisagem”. A sua localização permite, desta forma, uma “vista de 360.º graus” e assim “conseguimos ter leituras do território, neste caso, da cidade do Funchal e de toda a baía”. Hélder e João associam a sua exposição ao oceano e às montanhas “são dois semicírculos que, no fundo, invocam-nos/levam-nos para fora, mas simultaneamente traz-nos de volta para dentro”.

“’Terceira Paisagem’ é uma forma também de voltarmos, todos nós, a olharmos para este material como sendo um material cheio de potencialidade para o futuro”, acrescentam.

Ao destacar o material usado para esta exposição, a cana do reino, ambos os artistas realçam que apesar de o terem seleccionado poderiam também “ter trazido acácias, giestas, tantas outras infestantes que podemos observar no nosso território”. Evidenciam ainda que é possível trazê-lo “novamente para as nossas actividades, desde a arquitectura, o design e as artes plásticas, uma série de funcionalidades que ele tem e que se perdeu ao longo dos tempos. Achamos que deveriam ser novamente repensados, não só a nível institucional, mas também a um nível interpessoal da forma como ele poderá vir a ser introduzido nas nossas vidas”.

Esta exposição decorreu através do ciclo de exposições ‘Partilhas Francas’ onde vários artistas, referências e testemunhos da cultura tanto a nível material como artístico, estiveram, em vários Núcleos Museológicos do Município do Funchal, expondo os seus projectos. Hélder Folgado e João Almeida apresentaram, em conjunto, a exposição ‘Terceira Paisagem’ na Torre Mirante da Câmara Municipal do Funchal. Diogo Goes foi o curador deste projecto.

Os artistas:

Hélder Folgado é natural da Camacha e nasceu em 1983. Licenciou-se em Escultura na Faculdade de Belas Artes do Porto e concluiu, em 2019, o grau de mestre na mesma instituição. Desde então a sua prática artística tem vindo a explorar, com maior enfoque, a cera, entendida como uma das matérias-primas basilares na cultura humana e outros materiais, maioritariamente orgânicos e susceptíveis à transformação.

Entre as suas exposições individuais destacam-se: Elementos, residência e exposição nos Annexes du châteaux de Bourglinster; Luxembourg (2019); Pendulum, Capela da nossa Senhora da Oliveira, integrado no Ilhéstico – um roteiro de arte contemporânea para a cidade do Funchal, com curadoria de Miguel Von Hafe Pérez. Madeira (2019); Cyclogenesis - Oficinas Colaborativas. T1 BBCalling, Madeira, (2019). Agir é Intervir. Um braço que se estende ocupa espaço… Museu Henrique e Francisco Franco. Madeira (2019); Melancolia, com curadoria de Márcia de Sousa, galeria do MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira, galeria dos Prazeres e Sítio do Ponto, Madeira, (2018); Contudo, move-se… Galeria João Pedro Rodrigues, Porto (2012); Terráqueos I, projecto de instalação performance. C.A.C.E Cultural, Associação Cultural Panmixia, Porto (2009).

João Almeida nasceu em 1984 e é natural do Funchal. Formou-se em Arquitectura na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, em 2009 e colaborou com o arquitecto Paulo David entre 2008 e 2017 onde desenvolveu actividades de concepção, gestão e coordenação de projectos e organização de publicações e exposições, incluindo a participação na 15.ª Exposição Internacional de Arquitectura – Bienal de Veneza.

Desde 2007, e em paralelo com a sua actividade como arquitecto, tem vindo a realizar investigação de património arquitectónico na ilha da Madeira, com especial enfoque em estruturas vernaculares pétreas, onde a temática das actividades interiores escavadas sobre maciços rochosos tem vindo a ganhar maior relevo, contando com publicações e conferências.

Recentemente, iniciou a sua prática de arquitectura a título individual e em colaboração com o atelier Mayer e Selders Arquitectura, após um período entre 2017 e 2018 em que foi convidado a leccionar na Universidade de Cornell, no Departamento de Arquitectura, onde também realizou conferências e exposições, entre as quais ‘Architectural Models’, ‘Wax. Models and Drawings’ e ‘Reshaping Space Through Models’ as duas últimas em colaboração com o escultor Hélder Folgado. Em 2019, participou no ‘Ilhéstico’ – um roteiro de arte contemporânea para a cidade do Funchal com curadoria de Miguel Von Hafe Pérez, desenvolvido pela Porta 33, com instalação ‘Atmosferas Líticas’ em colaboração com Hélder Folgado e Duarte Ferreira.