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Pandemia e comunicação

A escassez do tempo que decorreu desde o início da pandemia, não permite certezas

A pandemia Covid-19 reforçou a importância da comunicação em saúde, em particular, e da comunicação, em geral. Ninguém nega que os órgãos de comunicação social, até mesmo as redes sociais, têm tido um papel de primordial importância. Nem sempre, no entanto, do modo mais verdadeiro, fundamentado, assertivo e realmente informativo e formativo das populações.

Não há, ainda, que seja do meu conhecimento, informação trabalhada que leve ao conhecimento de como o conjunto do que foi comunicado, desde as conferências de imprensa das autoridades de saúde, os comunicados, as intervenções públicas e publicadas, os artigos vários e de diversas proveniências que vieram a público, os boatos, “fake news”, os “eu acho que”, os “papers” científicos, as revistas da moda e as revistas onde se publicam os resultados de investigação científica séria, afectaram o modo como o público em geral, os simples cidadãos, tiveram a perspectiva do risco que tem determinado os seus comportamentos sociais.

As intervenções públicas e publicadas de autoridades, políticos, responsáveis de todos os géneros, balancearam entre instigar medo e angústia, na louvável intenção de motivar comportamentos preventivos. Nem sempre com o sucesso desejado.

Uma pandemia, habitualmente, envolve uma disseminação rápida da infecção em múltiplas e diferenciadas localizações geográficas que requer urgente actuação de quem tem por missão preservar a Saúde Pública, seja a Organização Mundial de Saúde, sejam os ministérios dos diversos países, as Direcções de Saúde nacionais e regionais, os profissionais de saúde, os investigadores, os cientistas, os estatísticos e outras entidades.

A assimetria de conhecimentos e a rapidez da progressão da doença, raramente permitem um aturado estudo com provas e contra-provas que permita fundamentar cientificamente as decisões, quer das próprias entidades da saúde, quer dos políticos que têm por dever definir e por na prática, as medidas julgadas convenientes, com os conhecimentos que vão obtendo. Daí as naturais falhas em algumas das medidas tomadas.

Há um factor que não pode ser artificialmente alterado, por muitos meios de que se disponha: o tempo.

A escassez do tempo que decorreu desde o início da pandemia, não permite certezas mais apuradas. Verdades mais consistentes.

Por outro lado, a aparente desconecção, irrelevância e estranheza de algumas das medidas tomadas a juntar ao cansaço das populações saturadas de restrições e, não raras vezes, confinadas em espaços sem grandes condições de habitabilidade, faz com que seja natural alguma relutância em cumprir determinadas regras e normas prescritas.

A maior parte das pessoas não tem acesso privilegiado a entidades de primeira linha no estudo das situações e, mesmo que tivesse, não teria preparação técnica e científica para extrair o melhor das informações obtidas. Daí que seja enorme a importância dos órgãos de comunicação de massas que são, muitas vezes, os únicos espaços onde podem adquirir informação.

Esta circunstância requer, dos referidos órgãos de comunicação, um especial esforço de, por um lado, ter gente suficientemente preparada para avaliar criticamente a informação difundida, por outro lado, acarreta acrescidas responsabilidades às autoridades de saúde habituais fornecedores dessa informação.