Madeira

Sindicato teme que despedimentos na Meo/Altice sejam apenas "um ensaio" para algo maior

Realizam hoje greve contra , sete dos quais da Madeira. Além de concentração em frente à sede da empresa na Avenida Zarco, entregaram moções ao Representante da República e à Assembleia Legislativa da Madeira

Fotos DR
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Os trabalhadores da Meo/Altice estão em greve hoje contra o despedimento de trabalhadores comunicada pela empresa de telecomunicações a 22 de Junho, mas o descontentamento vem de longa data, uma vez que desde 2015, quando a multinacional francesa adquiriu a PT, a empresa perdeu 16 mil trabalhadores nas contas do SINTTAV – Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual. Dos mais de 264 trabalhadores despedidos, sete são da Madeira, mas o sindicato teme que isto não pare por aqui.

Baptista Monteiro, representante na Madeira, explica que só na Madeira em 2015 eram seguramente mais de 300 até 400 trabalhadores afectos à PT e desde que a Altice adquiriu a empresa a força laboral foi esvaziada para 80 e poucos. Hoje manifestam-se por 7 trabalhadores despedidos, mas amanhã podem ser mais, acredita, esperando que as autoridades possam pôr fim a esta situação.

"Temos alertado todas as instâncias desta região para a situação que é deveras complicada", frisou. "Porque trabalhadores com 30 e tal anos de casa, com 57, 61 e 51 anos de idade, são confrontados com despedimento, que nunca lhes passou pela cabeça, nem ao sindicato ou mesmo às organizações dos trabalhadores da Meo/Altice".

Baptista Monteiro lembrou que o tema já mereceu voto de solidariedade da Assembleia Legislativa da Madeira e apenas um partido não votou favoravelmente, o CDS, que alegou desconhecer o dossier. Desta feita, além do parlamento regional, os trabalhadores reunidos inicialmente em frente à sede da empresa na Avenida Zarco foram, depois, até ao Palácio de São Lourenço entregar ao Representante da República uma moção aprovada no plenário de rua realizado de manhã. A iniciativa teve adesão em vários pontos do território nacional.

Mas estas acções não vão parar, garante, uma vez que "a situação que se vive na Meo/Altice é deveras complicada", classificando estes despedimentos como "macabros e ilegais", que esperam que as instituições, nomeadamente a 'Casa da Democracia' que é o parlamento regional procurem "travar este processo que é de uma aberração extrema". E continua: "Além de ser ilegal, demonstra uma prepotência e uma arrogância desta administração que não aprendeu há 4 anos com o que se passou. Foi precisamente neste dia que em 2017 os trabalhadores da Meo/Altice lutaram contra a transmissão [transferência de trabalhadores da PT/Meo para outras empresas ao abrigo da figura da transmissão de estabelecimento]. Foi uma vitória difícil, mas aconteceu e graças aos trabalhadores da Meo/Altice essa lei foi alterada a nível nacional e para bastante melhor."

Apelando aos trabalhadores para que se mantenham unidos, Baptista Monteiro reforça que é muito provável que os despedimentos não parem por aqui, pois já se fala no despedimento para breve de mais 750 trabalhadores, seguramente abrangendo mais dos cerca de 80 que ainda estão nos quadros da empresa na Madeira. "Este é apenas um ensaio e se pega, a administração virá com muitos mais processos, segundo informações que temos.  Ou travamos este processo no imediato, ou então isto vai ser uma 'salganhada'. E com isto, os trabalhadores têm de estar preparados para esta situação, têm de derrotar esta administração do grupo Altice", apelou.

O sindicalista lembrou que até 2015 "todos vivíamos em paz, tínhamos negociação colectiva, tínhamos aumentos salariais todos os anos e, a partir daí,  acabou-se a paz social nesta empresa", lamenta, reforçando que "os trabalhadores nunca mais tiveram sossego, nem vão ter. É só retirada de direitos, retirada de benefícios e de uma forma ditatorial. Não se reúne com as organizações representativas dos trabalhadores e quando chamam para reuniões é com factos consumados. Isto não é o Portugal de Abril, os trabalhadores não estão habituados a este tipo de situações, ainda para mias numa empresa com a grandeza que tem a Meo".

Apesar da empresa dizer que o processo termina em meados de Setembro, o SINTTAV exige que o processo de despedimentos seja interrompido imediatamente e com a "reintegração destes trabalhadores", aponta. "Com a ajuda dos trabalhadores, vamos vencer a prepotência e a arrogância".

E ainda lança a suspeita que esta situação não passe de uma tentativa de pressionar o Governo da República por causa do impasse nas licenças de 5G, uma vez que o próprio presidente executivo da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, chegou a pedir a demissão do presidente da ANACOM. "E como o Governo não lhe faz a vontade, então joga carne para canhão, joga os trabalhadores contra o Governo. Esta é que é a questão essencial. Se isto não pára por aqui, encontraram uma solução fácil de esvaziar a empresa. Trata-se de um grupo económico, tem esta empresa à venda, empresa essa que tem, neste momento, 6.100 trabalhadores, mas em 2015 tinha 22 mil. Se esvazia para os 4 mil, a empresa passa a valer muito mais com esses do que com os actuais", argumenta.