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Ansiedade e depressão, duas faces da mesma moeda

A ansiedade e a depressão podem ser perspetivadas como duas faces da mesma moeda. É estimado que 60 a 70% das pessoas com depressão maior manifestam uma perturbação de ansiedade e que metade das que desenvolvem uma perturbação de ansiedade manifestam sintomas de depressão clínica.

A investigação e a nossa experiência comum sugerem que alguns indivíduos reagem de forma ansiosa a eventos de vida e a situações sociais que experienciam como stressoras (caso de uma entrevista de emprego ou o mero formular de um pedido ou de uma opinião) pois percecionam que se estão a expor e, consequentemente, a ser avaliados (por si) e pelos outros, tendo menor perceção do seu próprio controlo sobre os acontecimentos.

E quando a ansiedade e os problemas são sentidos como intoleráveis e percecionados como ingeríveis pode surgir a depressão.

Em ambas as perturbações o sistema de resposta do stress está demasiado ativo. Não se consegue “pensar direito” porque os centros emocionais do cérebro estão em sobreatividade. Os pensamentos negativos que daí decorrem são vivenciados de forma desproporcionada e a capacidade de avaliar as situações com maior racionalidade e frieza fica comprometida. A sensação de falta de controlo e a incerteza sobre o que nos acontece aumenta.

A ansiedade é, porém, um estádio em que a pessoa luta e se debate contra os perigos que vai estimando, enquanto a depressão é um estádio posterior, a desistência, o baixar os braços e a perda da esperança, uma espécie de fechamento como resposta de “proteção” relativamente aos perigos e situações transtornantes, sentindo o indivíduo que já não tem recursos pessoais para superá-los.

As pessoas com ansiedade ou depressão sobrestimam o risco dos perigos e situações e subestimam os seus recursos/capacidades para com eles lidar. Evitam o que temem e apresentam dificuldade em mobilizar recursos e desenvolver ou ativar as competências necessárias para gerirem as circunstâncias que os tornam desconfortáveis, nomeadamente as sociais, que muitas vezes estão na raiz de uma forma menos adequada e adaptativa de gerir alguns episódios de vida.

A ansiedade e os seus sintomas, como muitas vezes precedem o desenvolvimento da depressão, acabam também por ser um sinal e oportunidade para a prevenção desta última, e aqui a psicoterapia pode ter um papel fundamental no desenvolvimento de estratégias e competências para ajustar as nossas emoções, pensamentos e comportamentos, para lidar melhor com situações-problema e para promover um maior autoconhecimento quanto ao reconhecimento e identificação das nossas vulnerabilidades, da sua origem, e também das nossas forças, valores, prioridades, motivações, e de como mobilizar recursos pessoais e sociais que serão ferramentas úteis para as enfrentarmos e nos projetarmos da melhor forma, no presente e no futuro.

“Conhece-te a ti próprio”, já nos diz a sabedoria do Templo de Delfos. Para Lao-Tzu, “conhecer os outros é inteligente, conhecer-se a si próprio é a verdadeira sabedoria”.