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A força de uma geração

Não esquecemos o caminho que trilhámos, nem que pertencemos a estruturas com passado e com futuro

No próximo fim-de-semana, a geração a que pertenço encerrará mais um ciclo político na já longa História da JS Madeira e dará lugar a novos protagonistas.

Quando muitos de nós chegaram à política pela primeira vez, em 2011, o PSD e o CDS tinham acabado de chegar ao poder no país e a Madeira debatia-se com as consequências de uma crise sem precedentes. Depois, quando, em 2012, eu, o Olavo Câmara e o Idílio Marçal nos cruzámos pela primeira vez, em Viseu, no XVIII Congresso Nacional da JS, estávamos longe, muito longe de imaginarmos o que seria a longa viagem destes dez anos das nossas vidas - mas quando nos sentámos, em 2013, à mesa do McDonalds da Avenida do Mar, sabíamos o que queríamos: construir um projecto alternativo de liderança para a JS e, com isso, contribuirmos para mudar a Madeira.

Mudar a Madeira em nome de causas que tornámos claras desde a primeira hora - Saúde, Educação, Emprego, Habitação, Participação, Mobilidade e Coesão - e em nome de valores que cedo abraçámos - Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Solidariedade. É esse o património histórico do Partido Socialista, que sempre procurámos honrar. Durante dez anos, também tentámos respeitar sempre a História da JS: livre, independente, irreverente e inovadora - e dirá apenas o contrário quem rapidamente se esqueceu do que foi a sua própria História, individual e colectiva.

Há quem, erradamente, fomente a ideia de que neste nosso tempo sim é fácil ser jovem socialista na Madeira, como se em 2011, ou em 2021, algum jovem madeirense adira a este projecto político à espera de outra coisa que não seja lutar pelos sonhos em que acredita; como se fazê-lo hoje na nossa Região não signifique o que sempre significou: ser diferente da maioria, remar contra a maré e sofrer todas as consequências disso mesmo - pessoais, familiares, profissionais e políticas. Há quem venda a ilusão de que esta geração chegou quando já tudo era fácil - mas como, se chegou ainda com Alberto João Jardim no poder? Como, se chegou com o mesmo sonho e o mesmo objectivo por concretizar? Como, se viveu as mesmas dificuldades? Como, se enfrentou duas crises pelo caminho e viu a sua geração inteira dizimada, forçada a emigrar? Não estará o erro nessa visão de quem continua a julgar-se dono de uma estrutura, patrão de uma moral histórica sem continuidade? Os partidos não são clubes privados, nem podem funcionar em bolha social.

Também há quem continue a olhar para as juventudes partidárias como entidades amorfas, sem capacidade crítica e sem espaço interventivo próprio, origem de todos os pecados políticos capitais. Desde 2012, o que fizemos foi mostrar precisamente o contrário - e fizemo-lo até quando isso significou estarmos de costas voltadas uns para os outros. Em 2015, com Alberto João Jardim de saída do poder, apelámos à evolução; em 2019, com Miguel Albuquerque recandidato, pedimos coragem para mudar, para construirmos a Madeira à nossa maneira; e agora, em 2021 e já de saída, recordámos que a solução é mesmo mudar de marca no Governo Regional e continuar a nossa no poder local. Nunca tivemos vergonha de sermos socialistas e se nunca nos intimidámos com o peso da história de Alberto João Jardim no poder, não nos intimidaremos com menos ainda.

Não esquecemos o caminho que trilhámos, nem que pertencemos a estruturas com passado e com futuro. Esta geração viu o PS Madeira ter o pior resultado da sua História em 2015 e contribuiu activa e decisivamente para deixar o PS com o melhor resultado de sempre em 2019 e acabar, pela primeira vez, com a maioria absoluta do PSD. Connosco, a JS e o PS cresceram, não diminuíram - e em 2021, recusamo-nos a andar para trás. Podem dificuldades circunstanciais vergar uma geração assim? Não. Pode um projecto político com aspirações futuras dispensá-la? Duvido. Deve uma candidatura dinâmica, extra-partidária, com um projecto aspiracional e mobilizador da maioria silenciosa da sociedade civil contar com ela? Certamente. Não antevejo, de resto, qualquer hipótese de sucesso a quem activamente excluir uma geração, ou a quem passivamente a ignorar - e o tempo, soberano julgador, clarificará se estou certo ou errado.

Esta geração encerra este seu percurso representada nas Assembleias de Freguesia, nas Juntas de Freguesia, nas Câmaras Municipais, na Assembleia Regional, na Assembleia da República, no Parlamento Europeu e no Governo da República - e isso é mérito, não exclusivo, nosso. Por onde tem passado, tem procurado fazer diferente, contribuindo para melhorias políticas evidentes. Agora, contrariamente ao que diz o ditado popular de que “atrás de nós virá quem bom de nós fará”, o que desejamos é precisamente o contrário e que quem agora vem, pior de nós faça, porque isso significará terem feito melhor do que fizemos - e deverão fazê-lo, porque o nosso objectivo maior, o nosso sonho maior, continua por cumprir: mudar a Madeira e, com isso, mudar a vida dos madeirenses. Aos que se seguem, quando a tarefa parecer difícil, não se esqueçam: não é mesmo possível apagar a força de uma geração. Em frente!