Crónicas

Língua Portuguesa. Valioso património.

O potencial da nossa língua é imenso. Talvez seja a única coisa em que somos realmente grandes a par de alguns fenómenos esporádicos no desporto

Esta semana comemorou-se mais um Dia Mundial da Língua Portuguesa. E como disse (e bem) o escritor e ex-Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, no seu Twitter, “por algum motivo, as mensagens de personalidades estrangeiras são muito mais emotivas e interessantes do que as das autoridades portuguesas.” Na verdade o idioma de Luís Vaz de Camões é por cá muito pouco valorizado. É um dado adquirido, nem damos conta das suas reais mais valias nem da dimensão de tudo o que envolve. Mais ou menos como aqueles monumentos lindíssimos ou paisagens idílicas pelos quais passamos todos os dias. Toda a gente se deslumbra com eles menos nós, que de tanto os ver já não lhes damos valor.

O potencial da nossa língua é imenso. Talvez seja a única coisa em que somos realmente grandes a par de alguns fenómenos esporádicos no desporto. Para começar é a mais falada em todo o hemisfério Sul. Tendo em consideração que o Mundo se divide em dois, não é pormenor de somenos. Somos também a quarta língua materna mais falada em todo o Planeta, depois do Mandarim, do Inglês e do Espanhol. Mais de 260 milhões de falantes, espalhados um pouco por toda a parte. E pese embora seja sobretudo falada em Países que estão longe de ser potencias também não é menos verdade que ao que tudo indica duplicará, graças à demografia, o número de falantes até 2100, com Angola e Moçambique, sobretudo, a adicionarem muitos milhões aos atuais 211 milhões de brasileiros, o maior contingente dos nove países que têm o português como língua oficial.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu esta semana a necessidade de existirem “mais condições para se falar e ler mais português”, porque que se tal não for feito “o português tenderá não a crescer, mas a morrer”. Concordo. Mas também me parece que já era tempo de passar das palavras aos actos e definir de uma vez por todas uma estratégia a médio prazo para aquele que é o nosso mais valioso património identitário e cultural. A atenção e o incentivo ao estudo do português, a proliferação das escolas e o aproveitamento de recursos que temos por cá em excesso, como os professores a quem devíamos ajudar a construir projectos de carreira por onde existe o ensino do nosso idioma ou uma relação mais estreita com os estudantes dos Países Lusófonos.

É bom termos a noção de que as economias dos países da CPLP representam 2,7 biliões de euros, o que faria da lusofonia a sexta maior economia do mundo, se estivéssemos organizados e concertados. E que quanto mais profícuo for o desafio do Instituto Camões ou quanto maior for a capacidade da CPLP de se recriar e ajudar a estreitar laços entre os países constituintes, mais interessados existirão em aprender. Essa expansão da Língua Portuguesa para lá do espaço CPLP e da diáspora estará intimamente ligada ao interesse gerado pelo desenvolvimento das nossas economias. Basta ver que mais de 5 mil chineses aprendem, ao dia de hoje o português, em mais de 47 universidades. Assim como outros, fazem-no sobretudo enquanto ela representar uma mais valia. Nesse caminho temos ainda muito por explorar. Sobretudo na capacidade de gerar mais valor e de a a rentabilizar. Como disse e bem o embaixador João Ribeiro de Almeida, presidente do Camões, é “uma língua do Mundo para o Mundo”. É tempo de o assumirmos com o potencial que lhe é devido. Com orgulho e com respeito. Não tenhamos dúvidas de que ( sendo um País pequeno ) a nossa capacidade de crescimento enquanto comunidade depende da universalidade da nossa Língua.

"Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa."

Fernando Pessoa