Madeira

"Os apoios deviam ir directamente para os trabalhadores não para as empresas"

Alexandre Fernandes, coordenador da USAM, critica a falta de dados pedidos pelos sindicatos há meses e que agora aparecem na comunicação social

Foto Arquivo/Rui Silva/Aspress
Foto Arquivo/Rui Silva/Aspress

O coordenador da União dos Sindicatos da Madeira (USAM) reagiu à manchete do DIÁRIO desta sexta-feira, 14 de Maio de 2021, que faz um ponto de situação aos apoios às empresas e trabalhadores afectados pela covid-19 que, na Região, já custaram mais de 32 milhões de euros, salientando que gostaria que a maior parte dessas verbas tivesse ido directamente para os bolsos dos trabalhadores e não para as empresas.

No entender de Alexandre Fernandes quanto aos valores despendidos, "não nos surpreende e até achamos que são baixos, comparativamente com as efectivas necessidades dos trabalhadores", reforçando com "um dado concreto", pelo facto de haver "os apoios do Lay-off e à retoma, mas são sobretudo para cerca de 7.800 trabalhadores, a maioria do sector da Hotelaria, Restauração e Similares, não ficando aquém dos dados que temos internamente". E acrescenta: "É revelador da situação social que se vive no que toca ao emprego. Estes apoios existem, de facto é a Segurança Social que os fazem, mas não é um apoio directo aos trabalhadores, que receberam um valor irrisório tendo em conta os números revelados, nem chega a um milhão de euros (958 mil) aos trabalhadores que receberam os seus rendimentos."

O sindicalista reforça que a maioria "dos apoios têm sido dados apenas e directamente às empresas, quando deveria ser dado directamente ao trabalhador, que é quem está com perda salarial, que não está a trabalhar. O que vemos, não diria que são todas as situações, é certo, porque felizmente temos patrões e empresários honestos e trabalhadores, mas são vários grupos hoteleiros que, desde o ano passado estão encerrados e com obras nos seus estabelecimentos", refere.

A USAM, pela voz de Alexandre Fernandes, questiona se, de facto, "vêm por um lado dizer que precisam de mais apoios do Governo, que a situação está muito má, que as dificuldades são muitas, mas estão neste momento a investir. Não dizemos que não devam investir e melhorar as suas unidades hoteleiras, mas acho que esta é uma altura em que deveria ser privilegiada a questão do trabalho, dos trabalhadores e  do emprego, mas não é o que se vê. Também é algo que lhes diz respeito", mas não deixa de dar essa nota.

"De facto, entristece-nos, não questionando o papel importantíssimo da imprensa, o qual relevamos, mas não podemos ser vistos como inimigos mas sim como parceiros e entidades que só querem o bem dos trabalhadores." Alexandre Fernandes

Contudo, o sindicalista começou a reacção à notícia, destacando o facto de há vários meses que os sindicatos aguardam pela cedência desses dados por parte da Segurança Social, que agora vêm publicados na comunicação social. "É a nossa estranheza pela disponibilização dos números que há muito tempo, nós como estrutura intermédia da CGTP-IN e, também, alguns dos nossos sindicatos afiliados  e com especial expressão o Sindicato da Hotelaria, temos vindo a pedir os números das verbas despendidas no apoio ao Lay-off, bem como o apoio à retoma progressiva, e o número de trabalhadores envolvidos, essa informação, desde o ano passado, tem sido sempre sonegado".

Alexandre Fernandes acrescenta: "De facto, entristece-nos, não questionando o papel importantíssimo da imprensa, o qual relevamos, mas não podemos ser vistos como inimigos mas sim como parceiros e entidades que só querem o bem dos trabalhadores."

O coordenador da USAM conclui que, efectivamente, "são valores inferiores às necessidades, não são medidas que protegem o trabalho e os trabalhadores, porque se são medidas que protegem o emprego, passado o período de carência esses trabalhadores são despedidos. Há mesmo empresas que não recorreram a apoios com o objectivo de não ficarem condicionadas e não poderem despedir", denuncia.

Portanto, "com esta reabertura da economia que se vai registando, vamos ver como isto se vai processar, mas a informação que temos e os contactos que temos com os trabalhadores, sobretudo de hotelaria, restauração e similares, são extremamente preocupantes, as perdas de rendimento são avassaladoras".