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Honrar Abril

Anteontem, dia 25 de abril, celebrou-se a conquista da liberdade e o fim da ditadura, e foi um momento para uma reflexão essencial sobre uma das conquistas essenciais: desse grande momento da nossa história recente: o sistema político, a existência de partidos e de eleições livres.

A urgência desta reflexão só pode partir de exemplos concretos e atuais. Para isso, nada melhor do que a realidade que nos é mais próxima, nada melhor do que focar a atenção no que está a acontecer neste momento.

Tome-se o caso de Santa Cruz, com uma câmara conquistada há oito anos por um grupo de cidadãos, agora governada por um partido que mantém o ADN desse movimento inaugural, e que conseguiu reverter uma situação financeira catastrófica, ao mesmo tempo que alavancou um concelho onde imperava a ilegalidade, a falta de transparência, o compadrio, onde não existiam programas sociais, onde existia um atraso infraestrutural de décadas.

Apenas oito anos depois, as finanças estão consolidadas, temos um programa social estruturado com ajuda a quem mais precisa, mas também com áreas de intervenção de futuro, como a ajuda aos nossos jovens universitários com bolsas de estudo (coisa que Santa Cruza nunca teve), estamos a recuperar a rede de água e de saneamento e a implementá-la em locais onde ela nunca existiu, como no centro de Santa Cruz, ao mesmo tempo que lançamos mão a vários projetos de recuperação urbanística.

Ora perante isto o que fazem os partidos, ou melhor dizendo o que faz aquele partido que desgraçou isto tudo? Ou sendo ainda mais claro: o que faz o PSD, mais a. sua muleta, o CDS?

Como não podem negar o que foi feito, nem o que existe agora e não existiu nas mais de três décadas em que o PSD foi poder em Santa Cruz, toca a lançar uma campanha falando de uma nova visão para Santa Cruz, como se o povo fosse cego, ou como se ainda pudesse vigorar a velha máxima de que em terra de cegos quem tem olho é rei.

Mas como vivem naquele ilusão de que são os únicos seres pensantes, toca a culpar Santa Cruz por falhanços de políticas que deviam ser do Governo Regional, como o emprego, a política de juventude, o apoio ao tecido empresarial. Tudo áreas onde o Governo Regional falhou e tem falhado e agora querem fazer crer que uma Câmara, com o magro orçamento que as autarquias possuem, e à espera de verbas retidas pelo Governo Regional, como as do IRS, tem o dever de fazer o que o Governo não faz.

Quem ouve esta gente, até parece que a política de emprego a nível regional é um sucesso, que o desemprego não está a galopar sem parar, que o apoio ao tecido empresarial chega a todos, que a juventude tem tudo o que precisa e pleno emprego e que só em Santa Cruz é que existe desemprego e dificuldades.

Como é que esta gente pode prometer tanto para Santa Cruz quando se assiste a uma desgraça social na Madeira toda? Como é que esta gente pode falar de juventude, quando as dificuldades dos jovens grassam em toda a Região? Como pode esta gente falar de política para as empresas quando tanto falha a nível regional? Podem prometer para Santa Cruz aquilo que não conseguem fazer ao nível do Governo Regional? A resposta é simples: se tivessem vergonha, estavam calados. Mas, infelizmente, não se calam quando deviam, e calam-se quando deviam explicar. Explicar, por exemplo, aquela trapalhada e ilegalidade de ter um governante que recebeu dinheiro na sua conta pessoal, que não declarou nada, que acha que não deve explicações a ninguém e que se sente acima da lei.

Esta gente não honra a política, não respeita a verdade, não respeita o povo, não se respeitam a si próprios nem aos cargos que ocupam e, seguramente, não respeitam a herança de Abril.