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África perde terreno para os países mais desenvolvidos e acentua divergências internas

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A consultora NKC African Economics alertou hoje que a África subsaariana vai perder terreno para as regiões mais desenvolvidas nos próximos anos e que as divergências entre os países da região vão ser mais notórias.

"A África subsaariana parece ir perder terreno para os países mais ricos nos próximos anos, e as divergências entre os países dentro da região vão ser ainda mais notórias", alertam os consultores, num comentário às conclusões das Perspetivas Económicas Mundiais: África subsaariana, divulgadas na semana passada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na análise ao documento do FMI, os analistas da filial africana da Oxford Economics escrevem que "o FMI não oferece nenhuma solução fácil para os governos africanos, mas salienta as recomendações de política que há anos vem advogando, como fomentar o investimento privado, providenciar redes de segurança social mais fortes e facilitar a diversificação económica, que se tornaram mais urgentes do que nunca".

Na semana passada, o FMI divulgou o relatório sobre a região, prevendo um crescimento de 3,4%, que se segue a uma contração de 1,9% em 2020, mas alertando que as dificuldades são significativas para esta região, tendo em conta as consequências económicas e de saúde da pandemia de covid-19 e o fraco estado das finanças públicas da maior parte dos países.

"O contexto global sugere que os países que tentem endividar-se para resolver os problemas podem encontrar investidores interessados, mas algumas destas tentativas não ter os efeitos pretendidos, e estes governos que não querem reformular o seu perfil de dívida podem ser forçados a fazê-lo daqui a uns anos", e aí poderão já não encontrar os investidores interessados, alertam.

"A África subsaariana diverge do mundo, com constrangimentos no espaço orçamental e a distribuição de vacinas a atrasarem a recuperação de curto prazo", disse o diretor do departamento africano do FMI, Abebe Aemro Selassie, na apresentação do documento, acrescentando que enquanto as economias mais avançadas "deram um apoio financeiro extraordinário, que agora alimenta a recuperação económica, para a maioria dos países da região isto não é uma opção" devido às fracas condições financeiras.

Relativamente às prioridades em termos de políticas públicas, Selassie disse que a principal prioridade é "salvar vidas", sendo necessário um aumento da despesa no sistema de saúde e nos esforços de contenção da pandemia, além da distribuição de vacinas".

A segunda prioridade, elencou, é "reforçar a recuperação económica e desbloquear o potencial de crescimento com reformas ousadas e transformacionais, que nunca foram tão urgentes como agora, e apostar na proteção social, na digitalização e na transparência da governação, além da adaptação às mudanças climáticas".

A necessidade de aumentar a despesa para fazer face à pandemia e garantir a recuperação económica não vai ser uma tarefa fácil, reconheceu Selassie, mas é, ainda assim, necessária.

"Fazer isto ao mesmo tempo que as economias cicatrizam da pandemia vai requerer escolhas políticas difíceis, não temos dúvida sobre isso, os países vão ter de apertar o espaço orçamental para lidar com as vulnerabilidades da dívida e restaurar a saúde das contas públicas a médio prazo, principalmente nos 17 países da região que estão em elevado risco ou já numa situação de 'debt distress' [dificuldades com a dívida]", concluiu Selassie.