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Contra o conformismo, a participação

Aceitei o desafio de candidatar-me pela terceira vez à câmara da Calheta por considerar que a democracia existe enquanto houver pessoas que acreditam e contribuem para a sua manutenção.

Com a minha candidatura quero dar um sinal de importância da participação das pessoas nas causas comuns à sociedade, para que ela evolua no seu todo. Porque as causas envolvem pessoas que pensam no bem comum, movidas por um ideal.

Incomoda-me assistir ao conformismo, sobretudo nos jovens, que afasta as pessoas da política e da participação cívica, base da democracia. Inquieta-me saber que concelho da Calheta continua a ser representado por um partido hegemónico e quase único, por décadas, o que levou a maioria da sua população a adotar uma atitude de comodismo e sujeição aos ditames da maioria que governa.

A dialética própria do debate de ideias e opiniões sustentadas tem dado lugar à crispação gratuita ou ao marasmo. A democracia precisa de vida, de dinâmica e de gente para lhe dar corpo e alma.

Martha Nussbaum (2019), no seu ensaio Sem Fins Lucrativos, desenvolve o tema da importância das Humanidades para a Democracia. Não tendo, ainda, lido o seu livro, a citação que transcrevo a seguir, para além de me motivar para a sua leitura, constitui um dos motes para a minha candidatura e participação ativa na política. “Hoje, continuamos a defender que gostamos da democracia e do autogoverno, e continuamos a achar que gostamos da liberdade de expressão, respeito pela diferença e compreensão dos outros. Falamos muito destes valores, mas não pensamos o suficiente no que temos de fazer para os transmitir à geração seguinte e assegurar a sua sobrevivência.”

Este é o grande desafio dos educadores e dos humanistas, onde eu me enquadro: exercer um papel pedagógico pela construção e manutenção dos valores democráticos, para bem de uma sociedade plural, livre, tolerante e solidária, mais humana e empática, contribuindo para contrariar a postura egoísta, economicista e tecnocrata que coloca as pessoas em competição e ao serviço dos interesses instalados.