Crónicas

O Socialismo Laranja

Continuamos, assim, a ser tratados como imbecis, nesta espécie de confinamento que não é carne nem é peixe

1. Disco: dos Foo Fighters, está aí “Medicine At Midnight”. O regresso de “Grohl and the gang” com um dos discos do ano, atrevo-me a dizer. Este trabalho da banda é talvez o que mais marcas de pop tem, de todos os que gravaram até hoje. Amadureceu bem este disco que já devia ter saído no primeiro trimestre do ano passado.

2. Livro: permitam-me que aproveite este espaço para uma explicação sobre algo que parece preocupar a cabeça de alguns.

Adoro ler. É a actividade que mais prazer me dá. Leio de tudo, uma vez que são vários os assuntos que me interessam. Não comecei a fazê-lo ontem. E leio vários livros em simultâneo. Há o livro que anda comigo, o livro ao lado do sofá da sala, o que leio antes de dormir e, imaginem, até o livro que está na casa de banho. Obrigo-me a ler, entre todas as leituras, de 80 a 100 páginas por dia. Os livros que aqui trago foram todos lidos. Todos. Alguns recentemente e outros há muitos anos. Tenho uma biblioteca em casa, com uns milhares de livros, que trato com veneração, pelo muito que me ensinaram. Se aqui deixo recomendações, vejam isso como uma partilha. Basta-me, como satisfação, que haja uma única pessoa que se entusiasme com o livro recomendado e o vá ler.

3. São poucas as diferenças que separam o socialismo rosa do socialismo laranja praticado entre nós.

Vejamos:

Um sector empresarial do Estado a controlar actividades essenciais. No nosso caso, ainda vamos mais longe do que o que se passa no continente, estando nas mãos governamentais regionais sectores essenciais como a electricidade e gestão das águas, passando pelas estradas, portos e, pasme-se, a comercialização da banana. São 24 empresas participadas, directa e indirectamente, pela Região.

A intervenção constante na economia e na sociedade. A pouca ou nenhuma liberdade económica, pois, cerceada por regras, regulamentos e normativos impostos por inúmeras entidades que muitas vezes se contradizem. A necessidade de regular as pessoas, desde o berço até o túmulo, negando a responsabilidade individual e empresarial.

Os quase inexistentes benefícios fiscais ao investimento, que procure diversificar a economia, criando emprego e riqueza.

Uma espécie de economia planificada, suportada na subsidiarização que cria dependências a todos os níveis.

A divisão da sociedade madeirense em três classes: a “nós”, a “eles” e outra que não é “carne nem peixe”.

Uma clique dirigente à qual se associa o poder económico e os interesses de grupo. Um género de tecido social orwelliano onde “somos todos iguais, mas uns são mais iguais do que outros”.

A colectivização dos interesses, estando o grupo sempre à frente dos interesses individuais. Interesses de grupo que se confundem, sempre, com os interesses de alguns, com os interesses do governo e daqueles que o suportam.

A incapacidade de perceber que a equidade vale muito mais do que a igualdade, porque somos todos diferentes, com necessidades diferenciadas. Tratar por igual o que é diferente, é criar desigualdade.

A veneração do Sr. Governo, todo-poderoso, que tem a presunção de ser o único garante do bem-estar material de todos, fornecedor de saúde para todos, protector da autoestima de todos, corrector de todas as desvantagens sociais e políticas, educador de cada cidadão e eliminador de todas as distinções de classe. Em suma, um Estado paizinho que tudo assume e tudo decide por todos, transformando-se assim em factor de inibição de liberdade.

Cultiva-se a cunha, o compadrio, o aparelhismo partidário, o nepotismo e o amiguismo que matam o mérito, não permitindo a sadia comparação de competências.

O funcionalismo público como agência de emprego. A falta de incentivo de quem não sente que produzir mais e melhor é um meio de progressão pois, faça-o ou não, ganha o mesmo. Não se procura ter os melhores na administração pública. A prática da boa gestão é sobreposta por modelos difusos onde prevalece o cartão partidário. Ao fim de 40 anos de governo, o que temos é uma máquina brutalmente pesada, ineficaz por inépcia de quem manda, altamente burocratizada, o que induz à corrupção, e onde se alimenta a mediocridade, preferindo-a à competência. Se isto não é socialismo…

4. A partir de hoje, está proibido o exercício físico e o passeio higiénico após o recolher obrigatório.

Continuamos, assim, a ser tratados como imbecis, nesta espécie de confinamento que não é carne nem é peixe. Uns dias uma coisa e, no outro, outra. Ao fim de semana não há “take-away” depois das 18h, mas nos dias de semana já há.

Até aqui era possível arejar a cabeça e o corpo perto de casa, depois do recolher obrigatório. Como no continente. A partir de agora, não o podemos fazer. Mas já podemos encomendar comida.

Confuso? Não… cá nada.

E anunciam-se, estas coisas, com tom de pedantismo. Sem explicação, sem ciência. Porque sim, porque “como agora dei tolerância de ponto aos Funcionários Públicos, tenho de os trancar em casa, antes que dê porcaria”.

Gosto de ser tratado como um adulto. Isso não tem acontecido. Somos tratados como uns aluados incapazes de perceber o que nos dizem, para não pensar que, estes destratamentos que sofremos, por parte de quem manda, são dignos de mentecaptos. Expliquem, expliquem com ciência e clareza o porquê de tudo o que nos impõem pois, fazê-lo, é o mínimo que se exige. Consigam tratar-nos com a dignidade que merecemos.

Eu aceito tudo o que determinam as autoridades, sou um cidadão cumpridor, mas irrita-me solenemente este arzinho paternalista, como se fossemos crianças. O modo prepotente e desrespeitoso utilizado. Esta maneira pífia do “já que estou aqui, deixa-me dizer de modo “blasé” umas coisas”, como se fôssemos todos uma cambada de idiotas.

“Rais” parta isto!

5. Na passada 5ª feira, houve mais um debate, na Assembleia da República, envolvendo o CINM.

Lá tive que ouvir, o molho de brócolos que lidera o PAN, numa intervenção cheia de erros e incorrecções de quem não percebeu o que está em causa. Compreendo, agora, porque é que esse partido desapareceu na Madeira.

Depois, veio a Mortágua do BE que, como boa aprendiz do mentiroso-mor, um tal de Anacleto, debitou a cassete da conversa da treta do costume, tudo confundindo, tudo baralhando. Pura mentira, pura ignorância. Não compreendo como este partido ainda existe na Madeira.

O Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais deixou bem claro que a proposta do Governo da República foi feita com a cooperação institucional, que apelidou de impecável, do Governo Regional. “Não há um único passo que tenha sido dado sem o conhecimento prévio e a concordância do Governo Regional da Madeira. Espero bem que o Governo Regional da Madeira o possa confirmar publicamente porque essa é a verdade.” Ora, segundo o afirmado, alguém anda a mentir. Esperemos sentados pelo esclarecimento do GR. Não compreendo como os madeirenses ainda acreditam nessa gente.

É fácil concluir, sobre este assunto, que poderá levar à morte do CINM. Fica claro que foi moeda de troca, entre o PS e o PCP, para que este deixasse passar o OE de 2021. Não compreendo como os madeirenses ainda têm pachorra para aturar estes socialistas e comunistas de pataco.

No final, lá houve um entendimento que permitiu que nada fosse votado e que as propostas descessem à Comissão, de modo a ver se se consegue um acordo. Vá lá, parece ter prevalecido algum juízo.

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