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Sobre os moderados do PS

A Ciência Política estremeceu com o ternurento artigo de opinião de Paulo Cafôfo no DN (3/11/2021). Acerca das razões para o chumbo da proposta defendida pelo PS para o Orçamento de Estado/2022, a dada altura, nesse artigo, o Presidente demissionário do PS atira com uma lúcida justificação: é que «o PS não pode abandonar o centro, porque é um partido moderado»!

Assim ficou claro porque razão o PS rejeitou as propostas do PCP. O PCP insistiu para que fossem eliminadas as normas gravosas da legislação laboral. O PS recusou porque «não pode abandonar o centro, porque é um partido moderado». O PCP propôs o aumento significativo do Salário Mínimo Nacional, porém, o PS, com o apoio do PSD e CDS, recusou «porque o PS não pode abandonar o centro, porque é um partido moderado». O PCP defendeu a necessidade de aumentar os salários da Administração Pública, a valorização das carreiras e das profissões, propostas que o PS chumbou, «porque o PS não pode abandonar o centro, porque é um partido moderado».

Nas propostas apresentadas para o Orçamento de Estado/2022, o PS recusou medidas para garantir o acesso à habitação, medidas para taxar o grande capital, medidas para travar a destruição do SNS, medidas para criar redes públicas de creches e de lares, medidas para defender sectores produtivos e as micro, pequenas e médias empresas … tudo o PS recusou «porque o PS não pode abandonar o centro, porque é um partido moderado».

O PCP bateu-se pela alteração à lei dos despejos, pela recuperação para a esfera pública de empresa estratégicas, pelo controlo de preços da energia e dos combustíveis, mas o PS recusou, «porque o PS não pode abandonar o centro, porque é um partido moderado».

Embora possa parecer um paradoxo aos olhos da Ciência Política que ser “de esquerda”, ser socialista possa coincidir com o “não abandonar o centro”, a verdade é que cada uma daquelas recusas do PS em relação a propostas do PCP deixam bem evidente o que quer dizer “ser moderado” ou ter “juizinho”.