A “reabilitação” das muralhas do Forte do Ilhéu

Recentemente o Diário de Notícias da Madeira, de 1 de Novembro de 2021, trazia um artigo laudatório sobre a “reabilitação” do forte de Nossa Senhora da Conceição, mais conhecido por Forte da Pontinha, a propósito das recentes críticas da sociedade civil acerca dos métodos de recuperação das suas muralhas.

Ora, até qualquer leigo, ao olhar para aquelas muralhas rapidamente chega à conclusão de que não é a reabilitação mais acertada.

Em vez de preencherem com mais pedra as lacunas, betonaram as juntas com cimento! Não é reabilitação é betonização!

Deveriam também ter usado uma argamassa tradicional com cimento, cal e areia da ribeira, que faz uma massa mais escura para preencher as juntas. Uma argamassa que promovesse a sua integração paisagística, como de resto fez, há muitos anos, o experimentado arquitecto Victor Mestre na reabilitação do velho aqueduto de Machico.

Não houve respeito pelo Património, seguindo as diretrizes das boas práticas de recuperação plasmadas na Carta de Veneza.

Mas não se percebe! A APRAM fez um trabalho notável na reabilitação do icónico cais da Ponta do Sol, mas depois faz esta intervenção desastrosa, sem qualquer atenção pelo monumento histórico do séc.XVII classificado! Não se percebe a dualidade de critérios!

Não será com certeza por falta de técnicos superiores muito habilitados, que a DRC possui!

Mais estranho, quando a actual presidente da APRAM foi secretária regional da Cultura. Exigia-se outra postura e sensibilidade para as questões do património!

Um imóvel que até ganhou, em 1997, o prémio de reabilitação do Património da Câmara Municipal do Funchal e o prémio de recuperação da Associação Portuguesa de Municípios e Centros Históricos, projecto da autoria do atelier Bugio, do arquitecto João Favila, merecia outra ética de reabilitação das suas muralhas.

E já agora, o que é feito do guindaste inglês, de meados do séc. XIX, um dos últimos vestígios da nossa arqueologia industrial, que desapareceu, há uns anos, da esplanada deste forte?

Emanuel Gaspar