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Ultrapassar pela direita

Esta incerteza é algo que deve obrigar todos os madeirenses a refletir sobre este processo eleitoral

Num momento particularmente crítico para a recuperação no pós-pandemia, o país encontra-se mergulhado numa crise política em resultado do chumbo da proposta de Orçamento de Estado para 2022. Os responsáveis estão identificados, e por mais voltas, desculpas ou justificações que se apresentem, são única e exclusivamente todos os partidos que votaram contra o Orçamento de Estado. Poderá parecer simplista, mas tudo o que é rejeitado deve-se a quem votou contra.

Com motivações diversas, desde lutas pela sobrevivência à sede de poder, assistimos a um exercício de irresponsabilidade numa altura em que se exigia “sentido de Estado” por parte de todos os partidos representados na Assembleia da República. O país precisa de estabilidade para executar um orçamento que engloba as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência, e que no nosso caso particular, em muito beneficiará a Região Autónoma da Madeira. Este não era, nem é, o momento para satisfazer apetites partidários ou ambições pessoais.

Alguns tentam reescrever a história recente, contando uma narrativa incompleta de acordo com os interesses que defendem, mas a realidade é que toda esta situação, bem como a solução para de lá sairmos, está prevista na nossa Democracia: vamos a eleições e o povo será chamado a decidir. De acordo com as sondagens tudo indica que António Costa e o PS terão as maiores probabilidades de vitória, mas ninguém arrisca vaticínios de maiorias à esquerda ou à direita. E esta incerteza é algo que deve obrigar todos os madeirenses a refletir sobre este processo eleitoral.

Por um lado, ao contrário do discurso retórico habitual do PSD Madeira, temos um PS que garante à Região muitas das suas reivindicações, nas quais se incluem o pagamento de 50% do novo Hospital ou a atribuição de 5% do total nacional do PRR quando a população da RAM representa 2,5% do total nacional. Muitos outros exemplos existem, e há que reconhecer que algumas estão também por concretizar, mas justificar a falta de execução de medidas com a Pandemia não pode ser um argumento apenas à disposição do Governo Regional.

Do outro lado, temos um PSD que diaboliza a governação de António Costa com a esquerda, e que na Madeira já se percebeu apoiar maioritariamente Rui Rio, de quem não se conhece uma única medida ou proposta relativa à Região Autónoma da Madeira desde que é líder da oposição na Assembleia da República. Mas nesta equação temos ainda Paulo Rangel, que oportunisticamente aparecido e oportunisticamente apoiado até pela data das eleições, vem à Madeira prometer mundos e fundos, caso se torne Primeiro-Ministro. Os madeirenses têm memória do cumprimento de promessas por parte dos Governos da República liderados pelo PSD, em especial, do último liderado por Pedro Passos Coelho, cujas medidas ainda hoje nos penalizam, seja na péssima Lei de Finanças Regionais por si aprovada, seja nos elevados juros que a Região paga ao Estado, seja no modelo de mobilidade por si criado que levou os preços dos voos ao verdadeiro absurdo. E não, nunca naquela época se ouviu falar de novo Hospital, muito menos de comparticipação de 50%. Esse sim, foi o verdadeiro “inimigo externo” da Madeira e dos madeirenses.

Os madeirenses não merecem viver neste ziguezague permanente em que vive o PSD nacional e regional, entre o que tudo promete e o que nada promete, mas em última análise, nada fazem. Vivemos em democracia, o povo é soberano e o eleitorado saberá escolher, mas a memória e os exemplos recentes levam-me a pensar que ultrapassar pela direita continua a ser muito perigoso e arriscado.