Mundo

Governo afirma que forças armadas estão a disparar contra manifestantes no Sudão

None
Foto EPA/MOHAMMED ABU OBAID

O Ministério da Informação sudanês denunciou hoje através das redes sociais que as forças armadas estão a disparar "munições reais" contra manifestantes "que rejeitaram o golpe militar" em Cartum.

O exército disparou "munições reais" contra manifestantes que se concentraram no exterior do quartel-general do exército no centro de Cartum, que se encontra protegido com blocos de betão e soldados há vários dias, afirmou o ministério, através do Facebook.

O gabinete do primeiro-ministro sudanês, Abdullah Hamdok, detido esta manhã por militares e que se encontra em parte incerta, apelou aos sudaneses numa declaração, igualmente emitida pelo Ministério da Informação, para "se manifestarem" contra o "golpe de Estado".

"Exortamos o povo sudanês a protestar através de todos os meios pacíficos possíveis", afirmou o gabinete de Hamdok.

O Governo sudanês culpou hoje os militares pelas eventuais consequências do golpe de Estado, que os militares estão a tentar levar por diante, e confirmou que tanto o primeiro-ministro como a sua esposa se encontram em paradeiro desconhecido.

"A liderança militar do Estado sudanês tem plena responsabilidade pela vida e segurança do primeiro-ministro Abdullah Hamdok e da sua família. Estes líderes são responsáveis pelas consequências criminais, legais e políticas das decisões unilaterais que tomaram", afirmou o gabinete do primeiro-ministro, numa declaração.

No texto acrescenta-se que o primeiro-ministro e a sua esposa foram "raptados na segunda-feira de manhã cedo da sua residência de Cartum e levados para um local desconhecido por uma unidade militar".

Várias capitais e organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas, Liga Árabe, Estados Unidos e Alemanha, condenaram já a tentativa de golpe de Estado e apelaram ao regresso ao processo de transição.

"Apelo às forças armadas para que libertem imediatamente os detidos", afirmou o representante especial para o Sudão e Chefe da Missão Integrada de Assistência à Transição das Nações Unidas no Sudão (UNITAMS), acrescentando que, segundo o Ministério da Informação sudanês, quase todos os civis membros das autoridades de transição no país estão detidos pelos "militares".

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgueit, expressou através de uma declaração a "profunda preocupação" da organização sediada no Cairo, e exortou as partes a respeitarem o documento constitucional assinado em agosto de 2019 pelos militares e civis, em que se comprometem a partilhar o poder durante o período de transição, iniciado com a queda do ditador Omar al-Bashir, em abril do mesmo ano.

Abulgueit recordou que "não há problemas que possam ser resolvidos sem diálogo", após semanas de tensões e acusações cruzadas entre as componentes civil e militar dos órgãos dirigentes do Sudão, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado em setembro, abortada pelo exército.

O secretário-geral da Liga Árabe, de que o Sudão é membro, observou que "é importante respeitar todas as decisões e acordos acordados relativamente ao período de transição" e que as partes se abstenham "de quaisquer medidas que possam perturbar o período de transição ou abalar a estabilidade no Sudão".