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Atos de contr(ad)ição

Há muito que afirmo que, em contexto de Covid 19, não existem campeões do mundo. Heróis sim

A ambiguidade do título deste artigo pode surpreender os leitores mais desatentos, mas acredito que para a maioria assim não seja. Em qualquer dos casos, não tenho por hábito ou objetivo deixar a dúvida a pairar, e como tal, nada melhor do que descrever os factos e os atos, sejam eles de contrição ou de contradição.

Vivemos num período de incerteza, todos o sabemos, e somos diariamente bombardeados com informação, com novos dados e variáveis que alteram substancialmente o que eventualmente já considerávamos estável ou dávamos por garantido. A pandemia não mudou o mundo. Antes continua a mudá-lo diariamente, e a um ritmo que só a capacidade de adaptação, o trabalho, a organização e a competência permitirão ultrapassar e superar os enormes desafios que nos são colocados.

Olhando à Madeira, vemos uma Região eminentemente turística, cuja população tem o Turismo no seu ADN, e que dele depende na sua larga maioria, direta ou indiretamente. Somos o melhor destino do Mundo e da Europa! Somos o destino mais seguro da Europa e somos pioneiros na certificação do destino contra riscos biológicos! Mas somos também o destino onde os turistas foram ostracizados no início da pandemia, onde o Presidente do Governo Regional “estava disposto a colocar os carros de bombeiros a meio da pista” quando existiam milhares de turistas a querer apenas regressar à segurança das suas casas. Somos também o destino que clama por corredores verdes da Alemanha e do Reino Unido, onde o Secretário do Turismo afirma sermos reconhecidos internacionalmente, mas onde o Vice-Presidente do Governo acusa a mesma Alemanha e o mesmo Reino Unido de nos terem colocado em risco. Somos a Região distinguida pela International Hospital Federation pela resposta dada à pandemia, mas também somos a Região onde o Secretário da Saúde desaconselha as viagens à Madeira.

Contradições há muitas, a merecer porventura uma boa dose de atos de contrição! Não apenas no que ao Turismo diz respeito, dado que facilmente nos recordamos de outros exemplos, como o discurso de que as escolas iriam abrir e eram o sítio mais seguro para as crianças, para horas depois encerrarem e ser anunciado o recolher obrigatório.

Há muito que afirmo que, em contexto de Covid 19, não existem campeões do mundo. Heróis sim, existem, mas esses são os profissionais de saúde e membros das forças de segurança que diariamente correm riscos pessoais em prol do bem-estar coletivo, esteja ou não, tudo controlado. Não se explicam os motivos que nos levam de conferências de imprensa diárias, com presença de jornalistas para colocar questões, quando tínhamos um número residual de novas infeções diárias, para a inexistência dessas mesmas conferências numa altura em que a escalada de infeções por transmissão local atinge mais de 100 casos diários e era mais do que justo informar a população alarmada e assustada.

Ninguém pode esperar que o Governo Regional acerte em todas as decisões que toma. Mas há duas premissas básicas com que deve reger a sua atuação: dar o exemplo e falar verdade! Sugiro que comecem com melhorias na capacidade de comunicação e coordenação, que possam resultar das reuniões semanais de Conselho de Governo, na impossibilidade de serem discutidas à volta de uma mesa a degustar uma sandes de carne de vinho e alhos…

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