Madeira

10 Milhões não chegam para salvar negócios

Márcio Nóbrega antecipa um Janeiro de descalabro social com muitos despedimentos colectivos

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Foto DR

Em Janeiro será o "descalabro", alerta Márcio Nóbrega, empresário que tinha sete negócios antes da crise e que entretanto já fechou dois. Os outros estão numa morte lenta por falta de clientes e prepara-se para no próximo mês fechar o terceiro. Diz que aguentou nove meses, mas que não consegue mais e antecipa muito drama social logo no início de 2021 com o fim do impedimento para despedir na sequência dos apoios ao lay-off. “Demoraram muito”, criticou, sobre os apoios. “É preciso ajuda, e rapidamente”.

Novembro foi um mês mau para quem depende directa ou indirectamente do turismo e são muitos nesta terra. “Eu estou agonizado. Neste momento não tenho clientes, por mais que me reinvente, que readapte, que faça. Não há gente para consumir o produto”, desabafou. Tudo o que sejam novas linhas de apoio são bem-vindas porque as empresas estão num “sufoco gigante”, reage o empresário madeirense aos 10 milhões de euros disponibilizados a partir de hoje pelo Governo para apoiar o sector, e que pode der na edição do DIÁRIO. Mas diz que tem de ser “rápido, tem de ser imediato”.

No seu entender, os montantes deviam ser superiores ou então o Governo deve equacionar já uma segunda abertura. “No meu caso, o máximo que posso concorrer são 35.000 euros. Isto dá para pagar um mês de salários, não dá para muito mais.”

Neste momento Márcio Nóbrega tem perto de 40 funcionários e com poucas ou nenhumas receitas, tem sido o seu pé-de-meia que tem permitido aguentar. Mas confessa que chegou ao seu limite. “Se não tivesse dinheiro na minha empresa estava ‘lixado’. Mas agora não tenho mais.”

Em Janeiro acaba a obrigatoriedade de manutenção dos postos de trabalho, no seu entender será um caos social. “Vai haver despedimentos colectivos, uns atrás dos outros”.

Dono de sete negócios antes da crise, já perdeu dois e no início de 2021 vai fechar um terceiro. O único que ainda se aguenta é a Hamburgueria do Mercado porque está no centro do Funchal, vive do movimento diário da cidade. Os outros estão completamente expostos ao mercado turístico e á crise. Num deles, exemplificou, ontem fez 160 euros. Lá tem seis pessoas a trabalhar.

Os residentes também não têm sido a resposta, para desespero de quem vive com as mesas e cadeiras desocupadas. “Não se vêem pessoas na rua, não se vêem pessoas a brincar no jardim. É preciso voltar a passar a mensagem de que o vírus existe, mas que as pessoas não têm de se enfiar dentro de casa. Se as pessoas não voltarem a sair, o comércio desaparece”.

O apoio no entender do empresário deve ser estendido até que haja uma retoma. As empresas precisam de dinheiro porque estão descapitalizadas, ele próprio é exemplo, mas precisam sobretudo, diz, “que não lhes retirem mais dinheiro, o pouco que existe”. Como medidas para as empresas do turismo e restauração, pede a redução das tarifas da electricidade e água durante um período, a isenção da Segurança Social, pelo menos até ao início do Verão, apoio às rendas privadas e redução do IVA, apoios a conceder a empresas com quebras comprovadas de facturação e que eram cumpridoras até antes da pandemia. Em alternativa, poderá ser criada uma indeminização compensatória por quebra de facturação, refere. “Não é para ter lucros, é para fazer face aos custos operacionais”, diferencia. E dá como exemplo uma empresa que tenha no fim deste ano prejuízo de 50.000, 100.000 euros. Seria apoiada com este valor para colocar as contas a zero.

“O que vai acontecer para o ano, quando houver a retoma, quando acabarem as moratórias, é que ninguém vai conseguir pagar, porque estão descapitalizadas. Os gerentes, principalmente, vão estar sinalizados porque a maior parte destas linhas de apoio foram com os bens pessoais, vão estar sinalizados no Banco de Portugal e já não vão conseguir fazer mais nada. A partir daí, vai ser o descalabro” antecipa. “Não se está a querer falar disso, mas no fim do ano ninguém vai cumprir. Não há dinheiro, a gente não consegue cumprir. É estarmos a empurrar a dívida com a barriga”, alerta. Quanto acabarem as moratórias as empresas ainda não terão recuperado Ainda e têm os prejuízos acumulados. “Como é que se vão pagar as moratórias? As pessoas vão deixar de pagar, vão deixar as empresas. Depois onde é que vai haver empresas para o dinheiro que vem da União Europeia. Isto é uma questão que tem de ser pensada agora, não é na altura.”

O maior problema para os empresários é a falta de confiança e a falta de esperança, diz. “Eu nunca sei com o que é que conto, como é que eu vou estar a fazer planos? Se houvesse uma mensagem a dizer vai ser feito neste sentido, vamos organizar assim, a gente conseguia se organizar.”

Márcio Nóbrega recorda que a Madeira não vive da meia dúzia de grandes grupos, mas sobretudo de médias, pequenas e micro empresas, e são estas que não têm capacidade de aguentar. Para uma pequena empresa, exemplifica, uma dívida de 20.000 ou 30.000 euros significa a morte. “E depois já não tem mais crédito em lado nenhum. Vão cair os bens pessoais no meio disso.” “Isto vai ser um descalabro. As pessoas vão perder o ânimo. E depois vão vir os abutres”. Se o grande propósito é manter as empresas e os postos de trabalho, mais medidas tem de ser tomadas e rapidamente no seu entender.

“Não me queixei durante os primeiros meses, mas já estou há nove meses nisto. Quem é que aguenta?”. E termina com um alerta: “As pessoas morrem, fecham a porta e não se queixam a ninguém. Não estou a dizer para se revoltarem, mas é preciso se fazer ouvir, é preciso falar das coisas. Aqui não se fala de nada, nada. É preciso falar porque há pessoas que estão a perder a vida”.

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