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Presidente russo Vladimir Putin assinala 20 anos de poder

Foto Reuters
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O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinala esta sexta-feira, 9 de Agosto, 20 anos de poder no país, e os analistas políticos destacam as mudanças que protagonizou e questionam o que será o futuro após 2024, quando termina o seu mandato.

Quando Vladimir Putin foi nomeado primeiro-ministro, muitos acreditaram que o pouco conhecido chefe dos serviços de inteligência pretendia continuar as reformas democráticas dos anos pós-soviéticos e restaurar a ordem.

Vinte anos depois, o cenário que criou é de um poder quase absoluto e centrado em si mesmo, que parece determinado a manter.

Nas últimas semanas, a recusa das autoridades em permitir que a oposição concorra às municipais das maiores cidades do país, incluindo Moscovo, e a forte repressão policial e judicial ao movimento de protesto que se seguiu, deixaram pouco espaço para dúvidas.

Depois de ter marginalizado todas as vozes críticas, o ex-agente da KGB, de 66 anos, popular por restaurar a imagem da Rússia como potência internacional e trazer de volta uma aparência de estabilidade, não pretende deixar nenhuma oposição surgir. Mesmo que a Constituição não permita que se candidate a novo mandato, em 2024.

A história política de Putin começou em 1999, quando o então Presidente, Boris Ieltsin, nomeou, em 9 de agosto, o diretor do FSB, herdeiro da KGB soviética, como chefe do Governo.

Na altura, os analistas políticos classificaram-no como um representante dos serviços de segurança, capaz de acabar com a instabilidade política e a agitação no Cáucaso.

Foi ainda considerado um estadista eficaz, escolhido por Ieltsin para desenvolver a economia de mercado na Rússia.

Quando um enfraquecido Ieltsin renuncia, em 31 de dezembro, passa a pasta ao seu delfim, assegurando, na televisão, que Vladimir Putin será capaz de “consolidar a sociedade” e “garantir a continuação das reformas”.

No início do seu “reinado”, a Rússia era “um país pobre e com altas taxas de crimes, mas também livre e democrático”, lembra o jornalista político russo Nikolai Svanidze, que recorda Putin como um “bom parceiro de conversa”, com “muito sentido de humor”.

“Depois de 20 anos de poder ilimitado, cercado por bajuladores -- coisa inevitável num regime relativamente autoritário -- [Putin] mudou e não foi para melhor”, acrescentou em declarações à agência francesa de notícias AFP.

Nos seus primeiros anos de poder, Putin mostrou-se relativamente tolerante e disposto a ter boas relações com os ocidentais.

No entanto, cultivou sempre a imagem de um homem duro e lançou, em 1999, a segunda guerra na Tchetchénia, que o tornou popular e lhe permitiu ser eleito Presidente em 2000, com 53% dos votos.

Graças à abundância de petróleo, a sua primeira década no poder foi marcada por um aumento da qualidade de vida dos russos, mas também pelo regresso do controlo da comunicação social aos grupos oligarcas.

“O Putin de hoje não é o mesmo do período 1999-2000: passou de liberal a conservador”, considerou à AFP o politólogo russo Konstantin Kalachev, que defende que “essa evolução foi desencadeada pela deceção em relação aos ocidentais”.

Um dos momentos de mudança na vida de Putin aconteceu em 2004, com a “Revolução Laranja”, que levou à eleição na Ucrânia de um Presidente pró-Ocidente, visto pelo Kremlin como uma ingerência ocidental no seu território.

Em 2007, Putin fez em Munique um discurso que representou a grande mudança de posição em relação ao Ocidente.

Proferido em fevereiro durante uma conferência de segurança, o discurso do chefe do Kremlin defendia a “instauração de uma ordem multipolar”, lançando duras críticas aos Estados Unidos e à NATO.

Putin criticou a política unilateral dos EUA no mundo, incluindo os planos de instalar um sistema de defesa contra mísseis na Polónia e na República Checa e o crescimento da NATO em direção ao Leste europeu.

Desde então, as crises multiplicaram-se: guerra na Geórgia em 2008, intervenção ocidental na Líbia em 2011 vista como uma traição por Moscovo, que agora apoia Bashar al-Assad na Síria, crise ucraniana em 2014 com a anexação da Crimeia e conflito entre Kiev e separatistas pró-russas.

“O conflito com o Ocidente transformou Putin num reacionário”, considerou o editorialista político Georgui Bovt.

No plano interno, as mudanças sentem-se sobretudo na defesa dos valores tradicionais conservadores defendidos pela Igreja Ortodoxa, em oposição à “decadência” ocidental.

Com o mandato presidencial a terminar, a classe política russa tem questionado cada vez mais as suas intenções.

“Atualmente, Putin e sua comitiva estão à procura de uma maneira de não terem de sair”, disse Bovt, considerando que o Presidente russo se vê como alguém com “uma missão histórica a cumprir”.