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Hey Joe

Os Yuppies e os Joe’s desta vida são tão culpados, uns como outros, do desregramento a que a certa altura se chegou

Hey Joe, where you goin’ with that gun in your hand?

Hey Joe, I said where you goin’ with that gun in your hand?

Alright.

I’m goin down to shoot my old lady

Jimi Hendrix cantava assim nos idos anos 60 do século passado, entre outros, no festival mais badalado de então: Woodstock.

O festival reuniu cerca de meio milhão de jovens que tinham os lemas Paz, Amor e Liberdade como fios condutores dos seus comportamentos, logo a seguir ao Maio de 68 em Paris, quando os estudantes parisienses propunham slogans como: “sejam realistas, exijam o impossível”, “parem o mundo, eu quero descer” e, talvez o mais famoso de todos “é proibido proibir”.

Os jovens mais “progressistas” de então, que hoje em dia poder-se-iam encontrar numa certa esquerda caviar, aceitaram a música de um dos seus ídolos rebeldes, Jimi Hendrix, que cantava a letra atrás escrita: o Joe pegou numa arma e foi rua a baixo matar a sua mais que tudo porque a tinha encontrado enrolada com outro homem. Ninguém, então, o acusou de sexismo, machismo ou violência doméstica! A sociedade, naquela época de paz, amor e liberdade, aceitava este tipo de letras que acompanhavam as músicas icónicas dos seus mais famosos ídolos, tivessem estes os comportamentos mais desviantes que tivessem.

Os jovens de então cresceram com os ideais que os movimentos progressistas (os equivalentes actuais da chamada esquerda caviar) apregoavam, consumindo à mistura sex, drugs and rock’n’roll, numa prática que a sociedade foi aceitando e que conduziu à geração Yuppi dos anos 80, com a economia em crescimento muito à custa das teorias económicas liberais de Reagan e Thatcher e seus seguidores.

Com eles veio um certo facilitismo na forma como se conseguia comprar o dinheiro de uma forma fácil e sem grandes restrições quanto às garantias exigidas (quem não se lembra de receber em casa propaganda enviada pelos bancos com enormes facilidades na obtenção de créditos para isto e para aquilo, com os bancos a venderem muito mais do que o seu “core business”, como gostam de dizer os entendidos, desde cuecas a frigoríficos, passando por joias e carros), fazendo fácil o que anteriormente era difícil: comprar dinheiro que os bancos vendiam caro dizendo que emprestavam. Mentira, não emprestavam, vendiam, a prestações, e muito caro.

E foi assim que foram aparecendo os Joe’s desta vida, uns com mais outros com menos, mas todos aproveitando-se das facilidades que os seguidores de Jimi Hendrix (que aceitavam uma letra machista, xenófoba, indutora de violência contra o género feminino, coartadora da liberdade de escolha de quem querem escolher para companhia, enfim, tudo o que anos mais tarde é abominado por uma sociedade mais moderna e inclusiva) defendiam como modus vivendi politicamente correcto.

Os Yuppies e os Joe’s desta vida são tão culpados, uns como outros, do desregramento a que a certa altura se chegou, pois se uns apregoavam que iriam cometer um crime e fugir depois para não serem apanhados, os outros olhavam para o lado porque no fundo aceitavam a letra, mesmo que execrável para uma sociedade que via e sentia que aquele não era um comportamento com que se pudesse minimamente conviver.

Foram os Jimi’s Hendrix que criaram os Joe’s e foram os Yuppies que os aceitaram porque assim diziam as regras com que tinham crescido para o sex, drugs and rock’n’roll.

A sociedade mudou e já não há Yuppi, Millenial ou outros ainda mais jovens que aceitem este tipo de comportamentos, e que se horrorizam com os Joe’s que ainda vão persistindo com a complacência dos Yuppies que regulam (ou deveriam regular) quem tem acesso a quê.

Os reguladores têm a obrigação, sob pena de serem coniventes

(não é assim Carlos Santos Ferreira? não é assim Vitor Constâncio? não é assim Carlos Costa? não é assim José Sócrates?, para nomear só alguns)

com os Joe’s desta vida.

E se são coniventes, devem ser punidos, como deve ser punido o Joe que pegou na arma e foi rua abaixo para matar a mulher que ele tinha encontrado enrolada com outro homem.

Ambos têm de ser punidos exemplarmente, mas temo que nenhum deles o vai ser, porque ainda há muitos Yuppies a mandarem nos Joe’s deste mundo.

P.S. – hoje é dia de eleições! Dizem alguns que são para uma coisa que não nos diz directamente respeito. Falso! Dizem-nos directamente respeito porque uma eleição é a única forma de nós, democraticamente, dizermos, mostrarmos que estamos, ou não, em conjunto, satisfeitos ou não com as práticas dos Joe’s e Yuppies deste mundo. Ao abstermo-nos tornamo-nos cúmplices de todos eles a quem, muitas vezes, apelidamos de bestas.

Então, não se abeste (não, não é gralha), vá votar!