Madeira

Inov@louros coloca alunos no centro da aprendizagem

Projecto da Escola dos Louros permite que sejam os alunos a decidir o que querem aprender

Albuquerque voltou a sentar numa sala de aula, mas uma aula diferente.
Albuquerque voltou a sentar numa sala de aula, mas uma aula diferente.

Cansados de trabalhar da mesma forma com os currículos alternativos e sem resultados, num modelo tradicional de escola que era desmotivante para os alunos e mesmo para os professores, um grupo de professores da Escola dos Louros partiu à procura de alternativas. Foi na procura dessa alternativa que passara pelo modelo de José Pacheco, a Escola da Ponte, inspiração para o projecto ‘Inov@louros’, que desde o ano lectivo passado está na Escola de 2.º e 3.º Ciclos dos Louros às quartas-feiras, dando outra resposta às turmas dos currículos alternativos e ensino de adultos.

Às quartas-feiras a escola dá um passo em frente no tempo. “Este projecto é uma tentativa de trazer a escola para o século XXI”, revelou Elsa Trindade. “Nós achamos que continuamos a trabalhar de forma muito tradicional dentro da sala de aula, que não dá resposta aos alunos”, disse a coordenadora, que com Francisco Pereira está à frente do projecto, esta manhã apresentado ao presidente do Governo Regional e ao secretário regional de Educação. Os dois estiveram no anexo onde estão a maior partes das turmas. Lá Miguel Albuquerque contactou com os alunos, ouviu, viu alguns trabalhos e reconheceu a importância do projecto colocado em prática no ano lectivo 2015/2016.

A principal diferença é que é cada aluno quem define o que quer aprender, escolhendo no início do ano lectivo um tema, desenvolvido depois em quatro salas de aula e várias actividades, sempre decididas pelos próprios, ao ritmo de cada um. O resultado são alunos mais motivados, participativos e integrados, garante Elsa Trindade, embora, explique, o projecto é ainda muito jovem para poder ser contabilizado em números. Os resultados são medidos em participação, assiduidade, ligação à escola e aos professores.

Neste momento, o ‘Inov@louros’ funciona apenas à quarta-feira, os restantes dias são de currículo normal. O desejo é passar de um para três dias neste novo formato no próximo ano lectivo.

Com esta nova forma de ensino, o objectivo é fazer destes jovens e adultos, que foram colocados nestas turmas por terem necessidades especiais, problemas comportamentais e de assiduidade e motivação, alunos interessados, cidadãos preparados para o futuro e para uma carreira, nomeadamente através do ensino profissional.

Miguel Albuquerque vê com bons olhos estas abordagens. Na intervenção, o presidente frisou a intenção do Governo Regional de apoiar caminhos alternativos. “Um dos objectivos do nosso programa na área da Educação é pensar um pouco fora da caixa”, assumiu. Falando para a plateia, referiu a velocidade a que a sociedade evolui e que as mudanças serão cada vez mais rápidas. Referiu ainda a aposta na robótica e na matemática aplicada como uma das apostas do executivo, a pensar já no futuro. Dois em cada três empregos para a nova geração ainda não estão criados, disse.

A Secretaria de Educação também abraçou o desafio. Está sempre disponível para validar todos os projectos que entende contribuir para o sucesso, garantiu Jorge Carvalho. Segundo o secretário, mais do que modelos a adoptar em todas as escolas, prefere modelos feitos à medida de cada instituição de ensino: “Nós não actuamos na lógica da replicação dos projectos. Nós o que procuramos é validar, sensibilizar para a necessidade de encontrarmos projectos que possam responder de forma muito positiva àquilo que são os desafios da escola, os desafios da sociedade, mas acima de tudo as necessidades dos alunos”.

As quatro salas estão divididas por quatro áreas – ciências exactas, artes, humanidades e informática – e os professores divididos por estas. Dentro dos temas escolhidos individualmente por cada aluno e das actividades a que se propõem, vão passando por estas salas. Cada aluno tem um tutor e cada um ao final do dia de aprendizagem preenche uma grelha com o que fez e o que aprendeu. Quem define o que vai fazer e quando é que o vai fazer, é sempre o aluno, individualmente, explica Elsa Trindade. Automaticamente há depois ligações que se estabelecem aos conteúdos das disciplinas. “Aos poucos, ao ritmo de cada, vão aprendendo aquilo que têm de aprender. Mesmo que pareça que o tema não esteja ligado ao currículo. Tentamos fazê-los ver que eles podem aprender muito mais para além daquilo que pensam”.

Por exemplo, um dos alunos escolheu como tema o downhill, prática dentro do ciclismo. Aparentemente sem ligação à matéria, já o fez abordar algumas matérias. “Agora anda a trabalhar a parte da alimentação para o desportista e isso obrigou-o a trabalhar diferentes conteúdos das disciplinas, mesmo sem eles notarem que estão a trabalhar”.

A avaliação não é traduzida em resultados expressáveis nesta fase. Os professores querem sobretudo autonomia e responsabilidade da parte de cada um, é o que mais preocupa. “Enquanto não virmos essa evolução não podemos dizer que há resultados palpáveis”, assumiu a professora. Mas no dia-a-dia, dentro da escola, no capítulo da assiduidade, pontualidade, do serem responsáveis pelos materiais que trazem, por planificar o seu trabalho, já há resultados, diz a coordenadora. “No final do período e a nível intercalar fazemos a avaliação sobretudo das atitudes e dos comportamentos e aí é que nós vemos se há evolução. E eles tomam consciência de onde é que precisam trabalhar mais para conseguir avançar”.

O desejo e meta destes professores é um dia fazer deste dia todos os dias desta escola diferente.