Bordado procura reinventar-se

Promoção e parcerias são apostas para que Bordados não se tornem num museu

A arte que remonta ao século XV, época do povoamento da ilha da Madeira, “pode ter os dias contados”.
A arte que remonta ao século XV, época do povoamento da ilha da Madeira, “pode ter os dias contados”.

Estima-se que sejam três mil bordadeiras mas o sindicato crê que o número seja bem menor. Este artesanato com a marca Madeira, ‘lavrado’ sobre tecido, com linha e dedal, procura reinventar-se junto de estilistas e designers e promover-se nos principais mercados para ganhar competitividade. Mas os frutos são tão pequenos como os garanitos do Bordado Madeira, a caminho de se tornar num museu.

Ana Paula Rodrigues, presidente do Sindicato das Bordadeiras da Madeira, representa pouco mais de mil mulheres que se dedicam aos bordados. Nos anos 80, o sector dava para alimentar mais de 30 mil lares, mas hoje, já ninguém consegue viver exclusivamente dos bordados, também porque os trabalhos caíram a pique e já há mais mãos do que toalhas para bordar.

O retrato é de um sector estagnado “sem que as bordadeiras vejam luz ao fundo do túnel”. O sindicado reuniu-se com o Instituto do Vinho, dos Bordados e do Artesanato da Madeira (IVBAM) para analisar de que forma seria possível inovar e tornar o sector competitivo e diferenciador face à concorrência barata e sem qualidade, mas desde então, nada mais sabe.

A convicção é que o Bordado Madeira está a cair a pique nos mercados interno e externo, mas também não há dados que o confirmam ou desmintam.

“Falta transparência, os empresários queixam-se sempre das vendas no mercado local, que os turistas já não compram como antigamente, mas não se sabe se estão a exportar mais ou menos”, observa Ana Paula Rodrigues, que trabalha “dobradeira” numa empresa de bordados.

A estagnação que se verifica no sector é um factor pouco aliciante. Não é, portanto, de estranhar que as mulheres mais jovens que frequentam os cursos nas casas do povo não tenham grandes aspirações de virem a se tornar bordadeiras de casa. Para a dirigente sindical, não é apenas a sustentabilidade dos Bordados que está em causa: é também a preservação de uma arte que remonta ao século XV, início do povoamento da ilha da Madeira.

Embora admita que possa haver atrasos no pagamento das empresas às bordadeiras, Ana Paula Rodrigues garante que ao sindicato não têm sido reportadas reclamações. O que não invalida o vaticínio: “isto pode ter os dias contados”.

O inconformismo face à estagnação que se verifica nos bordados não é de hoje. Foi manifestado publicamente em Março do ano passado por Miguel Albuquerque, durante uma visita à empresa Bordal, no centro do Funchal. O presidente do Governo Regional referiu que os “tempos são outros” e que era necessário proceder a “mudança muito profunda”, não resistindo a acusar a tutela de “estar a dormir na forma”. Uma crítica que ditou o afastamento de Paula Cabaço da presidência do Instituto do Vinho, Bordados e Artesanato da Madeira (IVBAM), ela que, ao fim de 19 meses, viria a ser repescada para assumir a Secretaria Regional do Turismo e Cultura.

Sucedeu-lhe Paula Jardim Duarte, que já estava avisada para a falta de paciência do governo relativamente à gstão do delicado sector. Assim que iniciou funções, a nova presidente do IVBAM não perdeu tempo e tratou logo de reunir com os diversos representantes, auscultando as preocupações, diagnosticando fragilidades e procurando o remédio certo para trazer a inovação e dinâmica que o Bordado Madeira tanto precisa para sobreviver.