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Protesto de elementos da PSP e GNR teve elevada adesão e foi pacífico

Foto Global Imagens
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A manifestação de elementos da PSP e da GNR, hoje em Lisboa, foi marcada por uma elevada adesão, vários atos simbólicos e pacíficos, tendo ficado a ameaça de um novo protesto caso o Governo não cumpra as suas exigências.

O protesto de elementos das forças de segurança teve início cerca das 13:00 no Marquês de Pombal, de onde partiu um desfile até ao parlamento, onde se concentraram perto de 13 mil manifestantes, segundo a organização, vigiados por um forte dispositivo policial.

Além dos elementos da PSP destacados para controlar os colegas, foram colocados na escadaria da Assembleia da República blocos de cimento e barreiras metálicas para evitar a repetição dos acontecimentos de 2014, quando num protesto semelhante no mesmo local os manifestantes derrubaram as proteções e chegaram às portas do parlamento.

Também nas traseiras da Assembleia da República e na calçada da Estrela, era visível o mesmo tipo de barreiras de cimento, nos acessos à residência do primeiro-ministro.

A manifestação de hoje foi convocada pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR), as mais representativas das respetivas corporações, mas acabou por ser dominada pelas camisolas brancas e pulseiras alusivas ao Movimento Zero, uma estrutura inorgânica e anónima criada e alimentada nas redes sociais contra a situação salarial e condições de trabalho nas forças de segurança.

Apesar dos receios de desacatos e ações violentas, a manifestação, uma das maiores de sempre de elementos de forças de segurança, decorreu de força pacífica, quer no desfile a partir do Marquês do Pombal, encabeçado por uma tarja branca com os dizeres “exigimos respeito”, quer na concentração do parlamento.

Entre as camisolas brancas e muitas bandeiras de Portugal, os manifestantes optaram, contudo, por várias ações simbólicas, ao virarem costas à sede do PS, no trajeto do desfile, gritando “corruptos, corruptos” e cantando o hino nacional.

O hino voltou a ser entoado junto ao parlamento e, nesse momento, os manifestantes voltaram a virar costas ao edifício, antes de fazerem um minuto de silêncio em memória de um elemento da GNR que morreu atropelado em serviço quando assistia um acidente na A42 em Paços de Ferreira.

Os vários milhares de manifestantes concentrados em São Bento foram gritando, ao desafio da organização do protesto, ‘slogans’ como “polícias unidos jamais serão vencidos”, ouvindo-se em fundo uma música da banda Trabalhadores do Comércio com o tema “Chamem a polícia”.

No mesmo local, as associações de profissionais da PSP e da GNR anunciaram para 21 de janeiro um novo protesto, caso o Governo não atenda às suas reivindicações.

Os políticos também marcaram presença, destacando-se o deputado do Chega, André Ventura, envergando a camisola branca do Movimento Zero, que foi recebido com aplausos e gritos de “Ventura, Ventura”.

O deputado desceu à manifestação e discursou no sistema de som da organização: “Não queriam que aqui viesse, montaram uma barreira para impedir-nos de falar”, afirmou, numa referência às proteções de cimento na escadaria da Assembleia da República”, referindo que “a polícia unida jamais será vencida” e prometendo continuar a lutar pelos direitos das forças de segurança.

Este gesto foi, porém, criticado pelo presidente APG/GNR, César Nogueira, ao considerar que se tratou de “um aproveitamento político” num protesto que se pretendia apartidário.

Também o presidente da ASPP, Paulo Rodrigues, se demarcou da ação de André Ventura, reiterando que a manifestação era apartidária.

O deputado do CDS-PP Telmo Correia e a líder parlamentar do PAN, Inês Corte-Real, desceram igualmente para junto dos elementos das forças de segurança, em frente à Assembleia da República, manifestando compreensão quanto às suas reivindicações.

Deputados do BE, PCP e Iniciativa Liberal solidarizaram-se, por sua vez, com os profissionais das forças de segurança, mas logo no início do desfile no Marquês de Pombal.

Apesar de nenhum deputado do PSD ter visitado os manifestantes, o vice-presidente da bancada social-democrata Carlos Peixoto disse entender o protesto e as suas reivindicações, acusando o Governo de “brutal desinvestimento”, e manifestou disponibilidade para receber no parlamento qualquer associação ou sindicato que o solicite.

Por fim, a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, afirmou que as reivindicações das associações representativas das forças de segurança estão a ser analisadas pelo Governo e disse que nos últimos quatro anos houve mais investimento e foram descongeladas carreiras.

O Presidente da República também se referiu à manifestação, afirmando que espera que sejam encontradas respostas para o estatuto das forças de segurança, assim como o das Forças Armadas, com diálogo entre o Governo e a associações representativas desses profissionais.

Depois de terminada a manifestação, o Movimento Zero marcou para a praça do Comércio um “ato solene” a propósito dos confrontos entre forças de segurança naquele local, há 30 anos, quando elementos da PSP exigiam a constituição de sindicatos e foram repelidos pelos colegas do corpo de intervenção, num incidente que ficou conhecido como “secos e molhados”.

No local, onde se situa o Ministério da Administração Interna, voltaram a cantar o hino nacional e deixaram velas no chão, marcando, pouco depois das 18:00, o fim do dia de protesto dos elementos das forças de segurança.

Entre as reivindicações que motivaram o protesto, estão os aumentos salariais, a atualização dos suplementos remuneratórios, que “há mais de 10 anos que não são revistos”, o pagamento de um subsídio de risco e mais e melhor equipamento de proteção pessoal.

Os polícias exigem também uma fiscalização das condições de higiene, saúde e segurança no trabalho e que seja cumprido o estatuto na parte referente à pré-aposentação aos 55 anos.

O Governo reatou na sexta-feira as negociações com os sindicatos da PSP e, na segunda, com a APG/GNR, mas as associações profissionais da PSP e da Guarda decidiram manter a manifestação de hoje e que decorreu sob o lema “tolerância zero”.