Desgovernados até dizer: CHEGA

Vivemos tempos de desgaste político, em que os cidadãos sentem que as suas vozes são abafadas por uma classe dirigente cada vez mais distante da realidade. A sucessão de promessas não cumpridas, de escândalos de corrupção e de medidas que parecem servir mais interesses próprios do que o bem comum tem minado a confiança nas instituições. Não é por acaso que cresce, de norte a sul, o sentimento de desencanto com os partidos tradicionais.

É neste contexto que surge o Chega, com um discurso frontal e sem meias palavras. Denuncia aquilo que muitos portugueses murmuram à mesa de café: a impunidade dos poderosos, a falta de transparência e a injustiça de um sistema que parece proteger sempre os mesmos. Concorde-se ou não com o tom, é inegável que toca em feridas que outros preferem ignorar.

É claro que este estilo não está isento de críticas. Muitos acusam o Chega de populismo, de simplificar problemas complexos e de incendiar o debate público. Essas críticas não são de somenos importância e devem ser levadas a sério, para que o entusiasmo popular não se transforme em divisão social. Ainda assim, importa perceber que, por trás das palavras duras, há uma mensagem de fundo que não pode ser desvalorizada.

O apoio crescente a este partido é, acima de tudo, um reflexo do descontentamento. Não é tanto uma adesão incondicional a um programa político, mas antes uma forma de dizer “basta” à política tradicional. Um voto de protesto que, quer se goste ou não, está a reconfigurar o nosso panorama democrático.

Não devemos esquecer que a própria Constituição da República Portuguesa estabelece, no seu artigo 10.º, que “o povo exerce o poder político através de órgãos de sufrágio universal e direto e através de outras formas de participação democrática”. Ou seja, os partidos existem para servir a vontade popular e não para se servirem dela. Quando esse contrato de confiança falha, o povo procura alternativas, mesmo que disruptivas.

Pode ser populismo, pode ser fogo que arde sem se ver, mas o povo revê-se nesse discurso. E esse facto, por si só, é um sinal de alerta para quem tem responsabilidades políticas e insiste em desgovernar o país. Porque, mais cedo ou mais tarde, o povo dirá: CHEGA, com todas as consequências, boas e más, que daí resultarão.

António Cartaxo