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Crónicas

Tata Werneck e a arte de bem comunicar (que faz falta a tanta gente)

Sou um admirador confesso da arte de bem comunicar. Seja ela de que forma for uma vez que pode assumir várias dimensões e linguagens. Não só porque trabalho nesta área mas porque sempre me fascinou o poder de nos relacionarmos e os formatos que desenvolvemos para atingir um objectivo, seja na construção da mensagem como na percepção que temos de quem a vai receber. A rádio, os jornais e a televisão são por isso berço da criação de talento e da revelação do mesmo ao mundo. Recordo-me há muitos anos de um amigo de longa data se ter apercebido de que eu, quando saía à noite gostava de observar a maneira como as pessoas interagiam umas com as outras. As expressões, os gestos, os movimentos corporais e a postura. A intencionalidade que pomos em cada momento, muitas vezes de forma absolutamente pura e livre de qualquer prévia programação. A capacidade de improvisarmos e de conseguirmos seduzir os outros pela eloquência e através da convicção. E não é mentira não, que uma palavra dita na altura certa, por mais pequena que possa parecer, pode mudar o dia de alguém. Eu gosto desses que se adaptam e se conseguem inserir em diversos meios e contextos. Sempre foi por isso, para mim super importante, dar-me com pessoas bem diferentes, gente de idades antagónicas, de mundos diversos e de ideias que me conseguissem colocar a mim a pensar.

Dentro dessa arte sou um seguidor atento e um apreciador profundo do trabalho da atriz brasileira que virou apresentadora, Tata Werneck. Depois de Jô Soares, o famoso “gordo” que foi durante muitos anos o grande entertainer do Brasil e que se fosse vivo, com os cancelamentos que existem e as frases proibidas certamente teria sido “excomungado”, é ela a rainha da TV atual do nosso país irmão. Para quem como eu segue o seu percurso, é incrível como a cada programa, cada interação com os convidados, ela se consegue superar e ser cada vez melhor. Num tempo em que é cada vez mais complicado fazer piadas do que quer que seja e em que as televisões apresentam talk-shows padronizados e “poucochinhos” é um verdadeiro deleite para a alma e um bálsamo para o nosso humor a capacidade inata que a mesma apresenta, sempre a pisar o risco sem faltar ao respeito, com respostas na ponta da língua e expressões que nos fazem chorar a rir. Conversas interessantes, histórias mirabolantes e situações que se a nós que estamos deste lado nos fazem corar imagino aos convidados. Sempre com nível, num jeito meio desengonçado que lhe dá um toque especial. Estar há nove anos no ar, líder de audiências é sinal de mérito e do trabalho exímio que atrai convidados de inegável qualidade e que fazem inveja a muitos outros. Fá-lo de forma leve, profunda e inteligente, tudo ao mesmo tempo.

Nesta nova temporada de “Lady Night” ela consegue colocar-se num patamar praticamente único, que vale a pena ser visto na Globo se tiverem oportunidade, porque é incomparável ao que temos por cá. Ela conseguiu de forma subtil “reinventar o timing e o ritmo das conversas e encontrar o balanceamento perfeito entre a comédia, a ousadia e a vulnerabilidade” como disse e bem o jornalista Alessandro Lo-Bianco. A fluidez do discurso e da interação, a facilidade com que retira do bolso uma tirada genial ou a capacidade de passar do humor ao amor é absolutamente única e uma autêntica aula de bem comunicar. Faz-nos falta neste mundo quem se consiga articular de uma forma simples mas sincera, quem circule entre conversas banais e profundas mantendo-as sempre interessantes. Quem se consiga explicar e se abrir sem se diminuir ou colocar numa posição difícil. Na arte de bem comunicar é necessário estarmos bem resolvidos connosco e conscientes do que pretendemos transmitir. Quantas vezes ficam coisas por dizer, atitudes por tomar e gestos por fazer… Às vezes por medo, outras por defesa. Seria importante que na escola se ensinasse e se desenvolvesse também essa arte mágica que nos aproxima dos outros e nos dá as ferramentas necessárias para que os outros entendam o que sentimos e o que queremos. Faria certamente muita gente mais feliz.

Frases Soltas:

José Mourinho regressou a Portugal para treinar o Benfica e a sua primeira conferência de imprensa não deixou ninguém indiferente. O tal poder da comunicação de que falo no texto. A força das palavras e das expressões, a narrativa e a certeza das convicções. As palavras certas no momento exato que conseguem dar esperança e entusiasmam tanta gente, está ali muito bem exemplificada. Também nisso é dos melhores treinadores do mundo.

A possibilidade do Chega num futuro próximo ser o partido mais votado numas eleições parece cada vez mais uma certeza. Concorde-se ou não, diga-se o que se quiser dizer, não parece existir ninguém com capacidade para arranjar o antídoto para aquele discurso. O mister Ventura parece ter inventado uma tática para a qual os adversários não estavam preparados para se defender.