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Mais de 40% das detenções durante repressão policial em Washington estão relacionadas com imigração

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Mais de 40% das detenções feitas durante a operação policial de um mês em Washington estão relacionadas com imigração, apesar do presidente dos Estados Unidos as ter justificado com a necessidade de combate ao crime, segundo análise divulgada ontem.

 A análise da agência de notícias Associated Press (AP), feita com base nos dados da operação, destaca que, na capital do país, o governo continuou a avançar com a sua agenda de linha dura em relação à imigração.

 O governo do presidente Donald Trump alegou sucesso na intervenção das forças federais em Washington, afirmando que ela resultou em mais de 2.300 prisões, incluindo mais de 12 suspeitos de homicídio, 20 supostos membros de gangues e centenas de pessoas acusadas de crimes relacionados com drogas e armas.

Mais de 220 armas ilegais foram retiradas das ruas, incluindo, um caso, de um adolescente que fez uma postagem preocupante nas redes sociais sobre uma escola, disseram as autoridades.

 No entanto, a proeminência das detenções de imigrantes --- mais de 940 pessoas --- alimentou críticas de que o verdadeiro objetivo da operação pode ter sido expandir as deportações.

Para os críticos, o esforço parece menos uma ação pontual contra o crime na capital e mais um modelo para a intervenção federal e o destaque de crimes violentos em outras cidades lideradas por prefeitos democratas, uma estratégia política familiar que Trump utilizou durante a campanha de 2020.

Autoridades em Chicago, há muito tempo alvo da retórica da administração sobre lei e ordem, já se preparavam para um reforço de agentes de imigração e, possivelmente, tropas da Guarda Nacional. O próprio Trump alimentou especulações, no fim de semana, postando nas redes sociais uma imagem do filme "Apocalypse Now" com helicópteros pairando sobre Chicago e a legenda: "Adoro o cheiro de deportações pela manhã".

 Não está claro quantos dos detidos enfrentaram acusações não relacionadas com a imigração, refere a AP.

 O governo tem argumentado repetidamente que as deportações são indissociáveis da redução da criminalidade, muitas vezes apresentando os detidos pelas autoridades de imigração como os "piores dos piores". Ainda assim, não está claro quantos dos detidos em Washington tinham outras acusações pendentes.

 Em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson, disse que muitos já tinham sido presos outras, e tinham condenações ou mandados pendentes por crimes como agressão, posse de drogas e abuso sexual infantil, sem especificar um número.

 "As autoridades policiais estão a fazer um excelente trabalho ao remover essas ameaças das comunidades de Washington, D.C. - o foco desta operação tem sido impedir crimes violentos cometidos por qualquer pessoa, independentemente do seu estatuto de imigração", afirmou Jackson num e-mail.

Relatórios internos das autoridades policiais obtidos pela AP dão um panorama parcial.

Durante os 10 dias analisados e o aumento das detenções, cerca de 22% das pessoas detidas por violações de imigração tinham antecedentes criminais, incluindo condução sob o efeito de álcool, posse de drogas, furto qualificado e roubo. Essa amostra representa um terço de todo o período. Os números relativos aos outros dias não estavam disponíveis, acrescenta a agência.

A operação de Trump em Washington D.C. foi lançada para fazer face a uma "emergência criminal". Uma ordem de emergência está prestes a expirar.

 Em 11 de agosto, Trump invocou a Seção 740 da Lei de Autonomia do Distrito de Columbia numa ordem executiva para declarar uma "emergência criminal" para que o seu governo pudesse assumir o controlo da força policial da cidade. Essa ordem está prestes a expirar na madrugada de hoje.

Trump assinou também uma diretiva para que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, ativasse a Guarda Nacional, que permanece na cidade junto com outros agentes federais.

 Embora os agentes de imigração tenham participado na operação desde o início, Trump realçou que o objetivo é lidar com os índices de criminalidade da cidade, que, segundo os números, diminuíram durante o aumento da ação policial federal, mas já estavam a cair antes disso.

 O Congresso deixou a ordem de emergência expirar na quarta-feira, mas espera-se que as tropas da Guarda Nacional permaneçam destacadas na cidade.