País que arde

É triste, desolador, arrepiante, profundamente dramático e chocante.

Mas atrás da tristeza, vem a revolta e a indignação.

Todos os anos deparamo-nos com os mesmos cenários macabros, umas vezes mais intensos, outras vezes menos, mas sempre dolorosos.

Ardem as serras, queimam-se as casas, enche-se de dor, de sofrimento, de frustração, de medo e desespero famílias inteiras.

Quando não é o luto a lhes bater à porta!

E não há ninguém capaz de pôr fim a este profundo e desumano descalabro.

O País parece estar condenado a arder e parte da sua população votada à miséria, à perda irreparável de bens que levaram anos a construir, com muito trabalho e Deus lá sabe com quantas privações e sofrimento.

E de quem é a culpa?

De ninguém. Ou melhor, do calor que se intensifica, do vento que sopra forte e da chuva que não cai.

E como não podemos arrefecer o tempo, parar o vento e mandar cair a chuva, o que temos a fazer é martirizar os bombeiros, alugar aviões, esvaziar tanques, reduzir as reservas de água e... deixar arder até apagar e esperar sentadinhos até o próximo verão, ou, presumivelmente, criar comissões para estudar as prevenções que, infelizmente, em nada resultam, como qualquer pessoa pode constatar.

Se já não há criminosos interesses por detrás de tudo isto – o que sinceramente duvidamos – não tarda que, qualquer dia, não surjam uma das inúmeras mentes iluminadas que temos em abundância no País a fazer desta tremenda desgraça um cartaz turístico.

VENHAM VER, DE NORTE SUL PORTUGAL A ARDER!

Infelizmente, a tragédia é tão desumana, tão séria, tão grave que o que menos nos apetece é brincar com ela.

Aquilo que, efetivamente, nos apetece dizer é que este País para além de estar a saque, está constantemente a ser desfigurado, perdendo a inegável beleza que tinha e a transformar-se num antro de vagabundos, num paraíso de ladrões, de criminosos, de malfeitores, em muitos lugares inseguro e onde cada vez mais os cidadãos veem restrita a liberdade - pelos abençoados do regime – apregoada.

Há países muito piores do que o nosso, é verdade, mas Portugal teve e ainda tem condições para estar muito melhor.

Só que para isso é preciso uma outra mentalidade, uma mudança radical de procedimentos, a noção de que mandar o País não é ser seu dono, servir Portugal não é se servir dele.

Os bons exemplos têm de vir de cima e nem sempre se observa isso, antes pelo contrário.

E não falamos só dos que governam, mas de todos aqueles que se comprometem a dar o seu contributo para melhorar o País e que, muitos deles, o que fazem é melhorar a sua vida e a daqueles que lhes convém.

Há 60 anos não se mudava o País com medo da PIDE, hoje não se muda esta “fantoche democracia” com medo dos VOTOS.

Estes incêndios, esta constante violência, (doméstica e não só) esta gradual subida de insegurança, permanente especulação, corrupções em série, casos surreais na SAÚDE, gritante INJUSTIÇA SOCIAL, tudo junto a uma JUSTIÇA que cada vez são menos os que a entendem, acreditam ou apoiam, está a levar este Portugal para os anos 20 onde a “corja” dessa altura provocou o golpe militar de 1926 e consequente ditadura.

Esta “história” da culpa morrer solteira, da irresponsabilidade e incompetência serem premiadas, “cheira-nos” que têm os dias, meses ou anos contados.

A ver, vamos.

Juvenal Pereira