Porque arde Portugal? (Parte I)

As imagens dos incêndios florestais, no nosso País, que são causa de destruição da paisagem, dos habitats das populações atingidas e dos seus recursos, dos ecossistemas, causam sofrimento, aos humanos e demais seres vivos, angustia-nos, desmotiva-nos, por vermos que, este, é um ciclo que sempre se repete, e nos faz repetir a pergunta, em epígrafe.

A CNN-Portugal, 15 Agosto, a partir 17h39, convidou o Prof. Pedro Bingre Amaral, professor de Engª Florestal e Ordenamento do Território, a fazer a sua avaliação. Transcrevo o que por ele foi dito, porque, sendo de alguém que investiga ajudar-nosà, com algumas respostas:

“O Fenómeno dos incêndios, natural no ecosistema mediterrânico que nós vivemos. Os incêndios são mais prováveis com a redução da agricultura que ocorreu a partir da década de 70. Se quisermos reduzir os incêndios florestais, temos três alternativas:

1 - instalar pastagens;

2 - instalar o montado estilo alentejano, mistura de pastagem com árvores dispersas;

3 – instalar os bosques fechados, sombrios, carvalhos, suficientemente sombrios, para criar humidade.

Os arbustos são espécies como: urzes, tojos, estevas, que favorecem os incêndios e são por eles favorecidos.

Se tivermos a combinação, infeliz, de terrenos abandonados, eucaliptais abandonados, onde os arbustos entram - temos máximo potencial de incêndio, máxima carga energética e se forem eucaliptais abandonados, a máxima possibilidade de propagação dos incêndios, porque a casca dos eucaliptos podem voar a kms de distância.

Se observarmos, atentamente, a paisagem que está a arder, quase, invariavelmente, são matagais, pinheiros ou eucaliptos abandonados. As pastagens, os montados, os bosques fechados e sombrios (carvalhos, sobreiros, porque são mais resistentes ao fogo), sem arbustos no sub-coberto, não ardem assim.

Os portugueses têm de fazer um grande esforço colectivo, nos meses de Inverno, para converter a nossa paisagem nestes tipos de vegetação. Neste momento: 40 % do território está invadido por arbustos, pinheiros, eucaliptos, significa que 40% do território é uma bomba incendiária, como está a acontecer e como vai acontecer, recorrentemente, porque os arbustos ardidos demoram, 4, 5, 6 anos a regenerar.

Muitas das áreas que arderam, em 2017, já têm, neste momento, uma carga de combustíveis finos, arbustivos e de alguma regeneração de pinheiral e eucaliptal pronta para voltar a explodir.

As soluções do ponto de vista económico:

- neste momento está o Estado (contribuintes) a gastar cerca de 600 milhões de euros/ano na prevenção e combate aos incêndios florestais;

- custos de oportunidade, perda da riqueza do país com os incêndios são 1,5 mil milhões euros / ano;

- a soma são cerca de 2 mil milhões de euros que o país perde todos os anos por arderem cerca de 4 milhões de hectares: perdemos 200 a 300 euros, por hectare, para combater os incêndios florestais. O dinheiro que estamos a perder / gastar no combate aos incêndios florestais poderia ser utilizado para recriar a silvopastorícia; a silvicultura; montados; bosques.

O obstáculo, no momento: não é falta de dinheiro, não é falta de técnicos preparados, não é sequer falta de condições ecológicas. A nossa dificuldade, no momento, é resolver o problema a montante: não há cadastro a Norte do rio Tejo. O território está dividido em parcelas, de meio hectare, que, normalmente, estão em nome de alguém, que faleceu, há 50, 60, 70 anos, e é impossível de encontrar os proprietários.

Há um caos na gestão da propriedade da terra, e há um caos na relação entre o poder público e o poder privado, lógicas de financiamento, que tem de ser resolvido.

O problema não é silvícola, nem ecológico, é jurídico e administrativo.”

João Freitas