Papa: Dois cardeais na linha da frente
Os tempos do nosso tempo, levam-nos sempre a considerar a época em que vivemos e as decisões que tomamos como determinantes para a história da humanidade. As guerras e o extremismo de hoje, o Covid de “ontem”, a crise financeira e tantos eventos anteriores, são sempre os mais importantes para os que a vivem nessa exata altura. A história da humanidade leva-nos por uma imensidão de acontecimentos que determinaram os caminhos que se seguiram e que nos trouxeram até hoje. A religião, neste caso a igreja Católica, não é por isso imune ao que se passa no Mundo e por consequência natural, na sua própria organização. Numa época em que tudo é posto em causa, o futuro é por isso jogado hoje ainda para mais quando há tanto por definir. Francisco foi por isso uma porta aberta para a discussão do que há-de vir, deixando no ar as mais diversas posições, colocando questões fundamentais em perspectiva e sob as quais o Vaticano terá que tomar uma posição. Do celibato, ao lugar das mulheres, a benção entre casais do mesmo sexo ou o tema dos recasados.
Esta é por isso a entrada numa nova e decisiva fase em que importa perceber que alas dentro da própria instituição conseguirão levar as suas vontades avante. Cristalizará a igreja num sumo conservadorismo, regressando às missas de costas em latim, contra o fim do celibato e a benção entre casais do mesmo sexo ou cederá aos perigos de um progressismo que divide e muito as opiniões nos diversos continentes, abrindo o flanco para um novo cisma na igreja? Muito haverá para perceber nesta eleição, que se disputará sob vários ângulos e esferas de influencia. Será um conclave com maior tendência para o conservadorismo americano ou para dará um passo para a modernização da escola alemã? Estará a igreja preparada para um primeiro Papa negro ou regressará às suas origens italianas? Que força terá o crescimento do catolicismo da Ásia e em África? Ou irá apostar num Sumo Pontífice mais jovem que traga uma nova vitalidade e aí entrará em equação o “nosso” Tolentino de Mendonça um dos homens de confiança do Santo Padre e com uma ascensão meteórica dentro da instituição.
No caso do madeirense, conhecido como o Cardeal “poeta” que fez o retiro espiritual do Papa, pouco se sabe acerca das suas opções relativamente às questões fraturantes em causa mas embora não seja um dos favoritos das casas de apostas, não é menos verdade que quem entra Papa no conclave, normalmente sai Cardeal e Tolentino continua a figurar numa curta lista de 22 papáveis segundo o site especializado “O Colégio dos Cardeais”, feito por teólogos e jornalistas vaticanistas. O Papa Francisco numa recente conversa com Jesuítas portugueses, aquando da sua visita a Portugal nas Jornadas Mundiais da Juventude, deixou o mote. “É preciso dialogar com o mundo, porque não se pode viver em conserva. Não podem ser religiosos introvertidos, a sorrir para dentro, protegendo o vosso ambiente sem convocar ninguém. Portanto, é preciso sair para este mundo, com os valores e os desvalores que ele tem.”
É tempo de “Sede Vacante”. Muito se especulará nos próximos dias sobre as diferentes possibilidades e o rumo que a Igreja deverá seguir. Deixo no entanto aqui dois nomes outsiders que por uma razão ou por outra poderão surpreender nesta “corrida” que culminará na escolha do novo representante de Deus na Terra. Dom Filipe Neri Ferrão, cardeal de Goa, que fala 8 línguas inclusivamente alemão e português pode ser um nome interessante para combater o centralismo europeu e que representa o Novo Mundo. Também Jean-Marc Aveline, cardeal de Marselha, o preferido do Papa para a sucessão pode ter uma palavra a dizer, sendo que em 135 cardeais eleitores há 110 que foram nomeados por Francisco.
Uma coisa é certa, nunca uma eleição de um Papa teve tanta influencia de ateus que querem fazer parte do processo de decisão.