“A vida é a arte do encontro”
O título deste singelo tributo ao Papa Francisco, provem do livro sobre a sua autobiografia -Esperança, o qual, no meu ver, centraliza sobretudo a sua missão pontifícia, de fazer da vida a arte do encontro. De facto e por razões várias, não é possível separar-se o homem Jorge Mário Bergoglio do Papa Francisco, mas, foi como Papa, que mais acentuou e manifestou essa prática, em fazer de cada momento do seu pontificado a arte do encontro. Julgo que, nunca aceitou ser chamado de Sumo Pontífice, mas, na verdade, foi um autêntico Pontifex «um construtor de pontes» em várias direções. E, assim foi ao longo do tempo em que liderou a igreja católica. Ressalvo a minha rendição ao seu profundo pensamento, transcrito nas suas encíclicas, como a Laudato Si e a Fratelli Tutti, pontes disruptivas e de partida à resolução dos graves problemas que o mundo actualmente atravessa. Recordo o meu primeiro encontro com a encíclica sobre as crises contemporâneas da nossa Casa Comum, lida e explicada nas missas do parto, realizadas na igreja da Ribeira Seca, logo após a sua publicação. Com ela abriu-nos as janelas para a agonia do planeta, para o ar irrespirável da Terra Mãe, partilhando-a com outros líderes mundiais de credos religiosos diferentes.
Para o Papa Francisco, a vida só faz sentido se se mantiver como arte do encontro, como várias vezes corporizou, ora com migrantes, ora com os sem abrigo e os marginalizados pelo político e socialmente correto, e com aqueles(as) que se sentem privados de liberdade. A arte do encontro, foi também a sua bandeira com os povos das nações que peregrinamente visitou, incluindo as comunidades indígenas, a quem exortou a luta pela defesa do seu espaço geográfico, pela sua cultura e identidade. A arte do encontro tocou também as crianças de latitudes diversas, sem olhar à cor, raça ou religião, vendo nelas as sementes do futuro da igreja, sempre num sistema sinodal. Para elas, pediu repetidamente proteção e castigo pesado para os seus abusadores tanto os de fora como os de dentro da própria igreja.
Efetivamente, muito mais esperávamos da arte dos encontros do Papa Francisco, mas, lamentavelmente, assim não aconteceu! Porém, resta a sua memória e um vasto legado colorido de gente das periferias existenciais, das ruas e dos bairros, dos campos e das cidades do mundo em permanente cântico de gratidão.
Severino Olim