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Fact Check Madeira

Haverá um histórico de acidentes graves na descida da Pena no Funchal?

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No último domingo, ao fim da tarde, um automóvel que descia a Pena, na Rua Pedro José de Ornelas, embateu numa parede, o que provocou a destruição da frente do veículo e ferimentos nos dois ocupantes. A notícia dessa ocorrência gerou um conjunto de comentários, nas várias plataformas do DIÁRIO, muitos deles associando a colocação de um novo tapete naquela rua ao aumento de velocidade dos automóveis e consequentemente dos acidentes.

Mas, haverá um histórico de acidentes graves naquela artéria, que apresenta uma inclinação acentuada?

A verificação dos factos, neste trabalho, tem duas vertentes: o histórico de acidentes graves e o potenciar da velocidade por um novo tapete. Comecemos por este último aspecto.

A Câmara Municipal do Funchal decidiu renovar o piso daquela rua, que já se apresentava bastante degradado, pois não era renovado desde as obras que se seguiram a Fevereiro de 2010. Fê-lo durante as férias escolares da Páscoa. Ainda falta concluir a intervenção, por exemplo, as lombas de borracha, essencialmente junto ao Colégio de Santa Teresinha, para obrigar a reduzir a velocidade.

A circulação automóvel em estradas muito inclinadas comporta maior risco de acidentes, quando comparada com a que ocorre em vias com pouco ou nenhuma inclinação. Qualquer condutor sabe-o empiricamente, mas há estudos científicos que o demonstram e contabilizam.

Um estudo brasileiro, publicado em Novembro de 2024, traçou uma correspondência directa entre a ocorrência de acidentes e os traçados das vias, contando-se entre estas a inclinação. Um outro estudo publicado pela National Library of Medicine (Estados Unidos), em Maio de 2023, veio estabelecer que o aumento de 1% na velocidade eleva em 4% as probabilidades de acidentes fatais.

Nas estradas inclinadas, pode haver um aumento involuntário de velocidade e com um tapete novo também. Por exemplo, aumentar a velocidade de 20 km para 20,2 Km (aparentemente quase igual) aumenta em 4% a probabilidade de ter um acidente.

Vejamos agora, o histórico de acidentes graves na Rua Pedro José de Ornelas. Consideramos graves os acidentes com feridos e/ou mortos.

Para este aspecto, socorremo-nos de notícias publicadas na imprensa regional desde 1970. O levantamento não pretendeu ser exaustivo, apenas elucidativo.

No levantamento realizado, identificámos acidentes envolvimento feridos, que passam por colisões entre automóveis, entre automóveis e motociclos, despistes e choques com as paredes e com as árvores e atropelamentos.

O acidente mais grave, que identificámos, aconteceu em Junho de 1984.

Um autocarro, da Transfunchal (antecessora da Horários do Funchal) que descia a Rua Pedro José de Ornelas, foi embater desgovernado numa árvore. Do choque resultaram 8 mortos e 27 feridos.

Mas, apesar de ser o mais grave, não foi o único a envolver um autocarro. Em Outubro de 1971, uma camioneta do Carros de São Gonçalo teve “uma avaria” e condutor optou por dirigir o veículo para a parede. Do acidente resultaram 16 feridos.

Novamente nos anos de 1980, um outro acidente, com uma carrinha e outros três veículos, provocou oito feridos. À época foi dito ser ‘falta de travões’.

Dos anos de 1990 em diante, identificámos quase duas dezenas de acidentes com feridos, mas com muito menos pessoas envolvidas em cada um deles e sem mortos (que os tenhamos identificado).

Uma das características daquela rua é o embate nas árvores.

Como se verifica, apesar de a gravidade dos acidentes ocorridos na Rua Pedro José de Ornelas ter vindo a diminuir ao longo dos anos, eles continuam a verificar-se e a causar feridos.

Por tudo o aqui exposto, avaliamos como verdadeiros os comentários dos leitores, que associam as condições da Rua Pedro José de Ornelas à potenciação de acidentes.

Como nota final, impõe-se lembrar que, como reafirmado no estudo brasileiro referido e é uma evidência empírica, “o factor humano figura como o principal, com um percentual de responsabilidade de 94% a 96%; o veículo responde por 2%; e a via, pelo restante – de 2% a 4%. ‘Entre esses fatores, podemos incluir variáveis como o álcool, a velocidade, o estado do veículo e dos pneus, o cansaço do condutor, a chuva e a visibilidade’”.

“Alcatrão novo… dá-lhe duro por ai a baixo” – H. Silva, comentário ao acidente de domingo na Rua Pedro José de Ornelas