O custo invisível da vida online
Hoje em dia, basta um scroll no Instagram ou uma reação num story para mudar o humor de uma pessoa. A comunicação digital tornou-se o novo “ar que respiramos”. Mas será que estamos a aprender a usá-la, ou a ser engolidos por ela?
Os nossos jovens vivem ligados 24 horas por dia, 7 dias por semana. Através das redes sociais, partilham, comentam, seguem. Mas também se comparam, pressionam-se em silêncio… e, por vezes, perdem-se de si próprios.
Um estudo publicado na revista científica Frontiers in Digital Health, realizado com mais de mil adolescentes, mostrou que ser ignorado nas redes sociais pode causar discussões sérias entre amigos. Estar constantemente disponível passou a ser a nova regra silenciosa das relações. E o incumprimento dessa regra tem consequências reais.
E não se trata apenas de emoções. Um outro estudo, conduzido pela Universidade de Durham, em Inglaterra, analisou as reações fisiológicas de 54 jovens adultos ao navegarem no Instagram durante apenas 15 minutos. O resultado? Corações mais lentos, mãos a suar e sinais de stress quando o uso da rede era interrompido. É como se o corpo entrasse em abstinência – tudo isto apenas por estar longe do telemóvel durante alguns minutos.
É verdade que estes estudos se centram em adolescentes e jovens adultos. Mas não nos iludamos: isto não é um fenómeno exclusivo dessa faixa etária. Muitos adultos sentem hoje o mesmo impulso de verificar notificações constantemente, o mesmo desconforto no silêncio digital, a mesma dependência invisível. A ansiedade causada por likes, mensagens por responder ou o medo de estar a “perder algo” atravessa gerações.
Vejo todos os dias alunos a viverem este mundo invisível. À primeira vista, estão ali, sentados na sala de aula. Mas muitas vezes a mente está noutro lado: num grupo de WhatsApp, numa fotografia que ainda não teve like ou numa notificação por abrir.
Contudo, há outra parte desta história que nos deve preocupar a todos. As redes sociais também estão a reforçar ideias tóxicas. Pediatras portugueses, em articulação com psicólogos, alertaram recentemente para o facto de muitas raparigas estarem a ser manipuladas e criticadas por rapazes devido à sua aparência, sem saberem como se defender. Trata-se de uma regressão perigosa no respeito mútuo, alimentada por padrões distorcidos que circulam nas redes.
Por isso, este texto é um apelo.
Aos pais, que muitas vezes acham que “os miúdos é que percebem dessas coisas”: não desliguem. Perguntem. Estejam presentes.
Aos professores, que tantas vezes se sentem a falar para telemóveis: não desistam. A sala de aula continua a ser um lugar onde se pode ensinar empatia, espírito crítico e equilíbrio. Talvez mais importante do que nunca.
E aos alunos – e a todos nós – que nos sentimos sozinhos, mesmo estando ligados a mil pessoas: cuidem-se. A vossa presença vale mais do que qualquer presença online.
A comunicação digital veio para ficar. Mas temos de garantir que nos liga, em vez de nos isolar. Que nos dá voz, em vez de nos silenciar por dentro. Que nos aproxima, em vez de nos fazer suar de ansiedade. Se nada fizermos, arriscamo-nos a viver numa sociedade viciada no digital e cada vez mais distante da vida real.