A insustentável leveza de Cafôfo

1. Paulo Cafôfo colocou o foco na questão judicial em toda a campanha. O que é coerente com a sua leviandade de deitar o Governo abaixo pela mesma razão. Não respeita o princípio de separação de poderes que vem da Revolução Francesa.

2. O Povo deu-lhe a resposta nas urnas. Não que não tivesse sido avisado. Mas insistiu. Sérgio Sousa Pinto disse, e bem - o PS na Madeira fez a aberração de deitar um Governo abaixo votando uma moção do Chega e agora está nesta situação aberrante.

3. Durante dias, desde a tristemente inolvidável noite eleitoral para o PS Madeira, hibernou. Reemerge das catacumbas para anunciar a lista à República. Em vez de falar sobre o que se esperava da nova legislatura para a Região, dedicou-se a verberar a ação futura do Governo. Sobre a questão judicial, meteu a viola no saco.

4. Há aqui, não obstante, uma coerência e uma incoerência. A coerência é que ele resolveu - finalmente! - respeitar a separação de poderes e já só fala de política e não mistura com Justiça. Tarde e a más horas e com sequelas que vão perdurar no tempo sobre um partido que ele ainda lidera, e já vai tarde, mas do qual nunca compreendeu a alma porque não conhece verdadeiramente a sua saga – aqui está porque ganhou um sorteio de candidatos a presidente de câmara por uma coligação para a qual não deu um chavo na sua génese. E ganhou o concurso por ser o mais desconhecido. Fica a prova que a falta de experiência política pode ser fatal.

5. A incongruência, mas que é obrigado a digerir, é que ele devia continuar, segundo a sua lógica justicialista, a não aceitar a legitimidade do novo Governo. Só que o Povo lhe deu uma aula de funcionamento do Estado de Direito com a sua escolha e repôs o princípio da separação de poderes. Temos pena pelo PS e pela falta de uma alternativa de centro-esquerda. Mas não há nada que a Democracia e o tempo não resolvam.

6. Na verdade, as suas críticas acres a um Governo que ainda não entrou em funções não é bem com o Governo, mas com o Povo. Paulo Cafôfo está zangado com o Povo. Estava tudo bem, mas o Povo não percebeu. Percebeu, percebeu, por isso é que o derrotou copiosamente.

7. E que tal emigrar, ou se retirar para a Crimeia? Afinal, foi Secretário de Estado da Emigração – sem nunca ter sido emigrante (ironia)! - enquanto outros tiravam as castanhas do fogo. Deixou a casa a arder. E voltaria como D. Sebastião quando lhe conviesse. E cumpriu - foi um novo Alcácer-Quibir. Quem não sabe escolher o campo onde lutar, acaba sempre assim. Como professor de História, não se lembrou das técnicas de D. Nun’Álvares? Que pena!

Miguel Fonseca