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Fact Check Madeira

É frequente a queda de pedras nas estradas da Madeira?

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O tempo chuvoso e ventoso dos últimos dias tem provocado um conjunto de contratempos, um pouco por toda a ilha da Madeira. Uma das consequências tem sido a queda de pedras, de grande, pequena ou média dimensão, em escarpas, paredes, para terrenos mas também para veredas e estradas. Um desses casos aconteceu na manhã desta segunda-feira, no Porto Moniz, na zona do miradouro, na estrada que liga o centro da vila à Santa.

A notícia dessa derrocada, que provocou ferimentos numa mulher e danificou muito um automóvel, mereceu um conjunto de reações dos leitores, nas redes sociais do DIÁRIO, nomeadamente no Facebook, onde foi aproveitado o ensejo para lançar críticas e atribuir responsabilidades políticas.

Em vários comentários é discutida a responsabilidade pelo acontecido e, num deles, é dito que se trata de uma situação recorrente, depreendendo-se que isso é afirmado como sinónimo do agravamento de eventuais responsabilidades. Vários comentários sugerem que a situação é geral a todo o arquipélago. Será mesmo assim?

Para verificarmos se, de facto, é comum haver derrocadas em locais de passagem de pessoas, tanto a pé como de carro, vamo-nos socorrer de notícias concretas dos últimos dois anos, nas edições em papel do DIÁRIO, e de uma busca rápida ao arquivo do DIÁRIO e do JM à expressão “queda de pedras”, nos últimos dez anos. Veremos também o que dizem alguns estudos.

A pesquisa ao arquivo do DIÁRIO permitiu identificar 22 notícias, nos últimos dois anos, em que foram referidas quedas de pedras para veredas e estradas, que condicionaram ou bloquearam a passagem, tendo mesmo havido uma morte numa vereda.

Mas quisemos realizar uma busca mais alargada. Então, procurámos nas edições em papel do DIÁRIO e do JM a expressão “queda de pedras”, nos últimos dez anos completos: 2006 até à actualidade.

Nessa procura identificámos 515 resultados, o que nos remete para uma média de 51 notícias anuais, mas devemos considerar que algumas se reportam ao mesmo acontecimento, publicado no DIÁRIO e no JM. Centremo-nos, então, em apenas um dele, aquele que mais vezes escreveu a expressão “queda de pedras” nas notícias em papel. Foi no Diário, o que aconteceu por 312 vezes.

Neste caso, temos uma média mensal de 31 notícias anuais, o que remete para perto de três notícias por mês, um mero indicador, pois as quedas de pedras/derrocadas acontecem em maior número durante os meses de Inverno.

Como referido, também recorremos a alguns estudos, nas partes em que abordam a precipitação de materiais na Madeira. Um deles foi a dissertação de mestrado do Cláudia Caetano, com o tema ‘Avaliação do risco de aluviões das ribeiras da ilha da Madeira’, apresentado em 2014 no Instituto Superior Técnico - IST. São numerosos os exemplos de derrocadas e de quedas de blocos rochosos associados a chuvas intensas.

Também consultámos a dissertação de mestrado de Sílvia Sepúlveda – ‘Avaliação da Precipitação Extrema na Ilha da Madeira’ - apresentada também no IST, em 2011, havendo conclusões semelhantes.

Um dos documentos consultados foi ‘Estudos de caracterização e diagnóstico prospectivo da situação existente’ da autoria da Norvia, com data de 2017, integrado nos trabalhos de preparação da revisão do PDM do Funchal. Nas ameaças é dito: “Existência de riscos de derrocadas, que embora sendo na maioria dos casos de origem natural, são muitas vezes induzidos e acelerados pela acção do homem, devido ao deficiente uso do solo.”

Um estudo da Associação Insular de Geografia sobre ‘Riscos e Catástrofes Naturais – Prevenir hoje para salvar amanhã’ identifica, entre vários outros, como riscos desabamentos, derrocadas e quedas de blocos. “Estes movimentos caracterizam-se por um brusco desprendimento, muitas vezes devido a fracturas e diáclases que deixam em desequilíbrio estruturas rochosas coesas.” São apontadas como principais causas: “Forte declive e efeito da gravidade; erosão por efeito da água, vento ou do mar; efeito do crescimento de raízes; acção da água infiltrada nas diáclases ou fissuras (principalmente em acção de gelo/degelo nas áreas montanhosas.”

Como se pode constatar, na Madeira, os desabamentos, derrocadas e queda de blocos são em teoria muito prováveis, pelas características da ilha. Também estão historicamente bastante documentadas, nomeadamente em estudos académicos, e têm profusa divulgação na comunicação social, tanto quando os casos são mais complexos, como nos mais simples e quase ou até mesmo inconsequentes.

Certo é que a queda de pedras (aqui simplificando e generalizando os fenómenos descritos) é natural e frequentes em toda a ilha da Madeira. Por isso, avaliamos como verdadeiras as afirmações dos leitores quando fazem comentários nesse sentido.

Queda de pedras foi “numa área onde é normal acontecer este tipo de situações” – C. Martins no Facebook