"Não houve qualquer falta de respeito pela cultura madeirense"
“Histerismo” e “alarmista”. Duas palavras usadas pelo secretário regional do Turismo e Cultura que servem para desvalorizar a polémica que circula nas redes sociais e em diversos sectores, nomeadamente na diáspora madeirense sobre a actuação de um grupo de dança na BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa), que combinou elementos do folclore madeirense com dança contemporânea. "Esta foi uma atuação que ocorreu no âmbito de uma homenagem que foi prestada às floristas da Madeira e não se tratou de nenhuma actuação que quisesse representar o folclore", explica.
O governante considera que a polémica se trata de uma 'tempestade num copo de água'. As declarações do secretário regional do Turismo e Cultura, Eduardo Jesus, são claras ao colocar este episódio na devida perspectiva: “Não houve qualquer falta de respeito pela cultura madeirense, mas sim uma demonstração criativa que enalteceu a identidade regional de forma inovadora”.
Eduardo Jesus explica que “a cultura goza — e deve gozar — de liberdade criativa. E essa liberdade é essencial para que as expressões culturais não fiquem estagnadas no tempo. Por exemplo no cocktail da BTL foi apresentada uma coreografia que juntou o grupo folclórico da Casa do Povo da Camacha e a Escola de Dança da Madeira, foi precisamente um exemplo disso: uma forma moderna e arrojada de valorizar o património cultural madeirense”.
"No âmbito da BTL[ mais propriamente no cocktail da Madeira], tivemos a actuação do Grupo de Folclore da Casa do Povo da Camacha e da Escola de Dança da Madeira, que é uma fusão de dança contemporânea com a tradicional dança do bailinho do folclore da Camacha, que deliciou e tem vindo a deliciar desde os últimos tempos em que nós temos utilizado essa manifestação", clarifica, acrescentando que "em circunstância alguma uma homenagem às floristas podia ser um atentado à cultura madeirense".
“A controvérsia gerada não passa de um exagero desproporcional”, reage. Eduardo Jesus deixou claro que não houve qualquer intenção de desvalorizar o património cultural madeirense, inclusive afirmou que já teve oportunidade de contactar o presidente da Associação Regional de Folclore que foi devidamente informado e não manifestou qualquer oposição à actuação, e “o que se viu foi um momento feliz e marcante na promoção da Madeira, que conseguiu valorizar a cultura local sem descaracterizar as suas raízes”.
O governante sublinha que a actuação foi construída com “respeito pela tradição, demonstrando que é possível inovar sem desvirtuar a essência cultural da Região”. Uns dançam o bailinho e outros uma dança mais contemporânea sem beliscar as tradições seculares e a história madeirense. Aliás, salienta que “este tipo de fusão [parceria] artística não é nova”. Segundo Eduardo Jesus, este trabalho começou em 2022 e tem sido apresentado com sucesso em diversos eventos ligados à promoção turística da Madeira. Vídeo
“A fusão cultural apresentada não só foi bem acolhida pelo público, como tem vindo a destacar-se como um dos momentos culturais mais apreciados em eventos de promoção da Madeira. É uma actuação que projecta uma imagem de modernidade, mas que respeita a autenticidade do folclore madeirense. Importa recordar que este tipo de iniciativas não substitui o folclore tradicional — pelo contrário, complementa-o e ajuda a promovê-lo junto de novos públicos. A incorporação de elementos modernos na gastronomia" - com apresentação de menus diferenciados através de chefs de cozinhas - e na moda sucede a mesma evolução "e até no Vinho da Madeira segue essa mesma lógica" - com garrafas a surgirem no mercado com um padrão totalmente diferente, uma "inovação sem perder a essência”, rebate as críticas que entretanto surgiram durante o dia.
Esta música, de Beyoncé, que poderá escutar, no ficheiro acima, foi precisamente o tema dançado, uma homenagem às floristas numa acção integrada na BTL e promovida por uma empresa que dinamiza algumas acções promocionais ligados ao evento.
Esta polémica nasce do medo infundado de que qualquer forma de modernização representa uma ameaça à tradição. No entanto, o que foi apresentado na BTL prova exactamente o contrário: “É possível inovar com respeito, valorizando o passado e projectando-o para o futuro. A Madeira tem uma herança cultural riquíssima e, ao invés de se prender a visões rígidas e ultrapassadas, deve continuar a investir em abordagens criativas e modernas que ampliem a visibilidade dessa mesma cultura. Esta actuação foi apenas isso — uma celebração criativa da identidade madeirense, que merecia elogios em vez de críticas infundadas”, insiste Eduardo Jesus.
Numa carta aberta que circula nas redes sociais lê-se que actuação “nada a dignifica, nem contribui para a preservação do Folclore Madeirense, principalmente pelo uso, de forma indevida e até ofensiva, dos trajes regionais da Madeira”, solicitando explicações ao governante como responsável máximo pela promoção do Turismo da Madeira, acerca desta situação, ocorrida na maior feira do Turismo do pais.
“Na nossa opinião, isto é uma vergonha para a imagem do Turismo da Madeira e, dum modo particular, é uma falta de respeito pelo trabalho de todos aqueles e aquelas que, no dia-a-dia e ao longo dos tempos e dos anos, lutam pela imagem e preservação da cultura tradicional da Madeira e do Porto Santo, “exigindo-se maior responsabilidade e maior rigor e cuidado para com exibições públicas, pagas pela Madeira, quer na promoção e preservação da cultura tradicional madeirense quer na promoção do destino Madeira”.
Complementa ainda que “animação turística e Cultura são áreas diferentes, mas devem estar irmanadas no respeito pela identidade cultural de uma Região Autónoma. Uma coisa é arte e e recriação da tradição, outra coisa é a ofensa e distorção dos usos e costumes de um povo, que se manifestam, concretamente, na sua etnografia, no traje, nas músicas, ou seja, naquilo que o folclore envolve e representa” considerando até “tão despropositada exibição, que ofende o povo madeirense e porto-santense”.