2019 foi o melhor ano eleitoral do PS-M?
Os socialistas já elegeram por duas vezes 19 deputados
Rui Caetano fez questão de lembrar no XXII congresso socialista que o grande projecto começou em 2019, o que pode ser interpretado como uma mensagem a todos quantos aparecem no PS a dar a ideia que só agora o partido está preparado para afirmar-se como alternativa. Depressa alguns militantes comentaram que o “programa credível” sublinhado pelo deputado quase garantia uma vitória histórica nesse ano. Será que 2019 foi mesmo o melhor ano do PS-M nas ‘Regionais’?
Nada melhor do que ir à prova dos factos quanto ao número de eleitos pelo PS-M em cada sufrágio:
Eleição/Eleitos do PS-M
· 27/06/1976 – 8
· 05/10/1980 - 5
· 14/10/1984 - 6
· 09/10/1988 - 7
· 11/10/1992 - 12
· 15/10/2000 - 13
· 17/10/2004 - 19
· 06/05/2007 - 7
· 09/10/2011 - 6
· 29/03/2015 – 6* (PS-PTP-PAN-MPT)
· 22/09/2019 - 19
· 24/09/2023 - 11
· 26/05/2024 – 11
Facilmente se comprova que os 19 eleitos em 2019 são comparáveis com o número alcançado em 2004, embora obtidos em contextos diferentes. Em 2004 havia 68 lugares em disputa com apenas 5 listas concorrentes a um sufrágio que registou 137.734 votantes e uma taxa de abstenção de 39,5%. Em 2019, 17 forças políticas disputaram os 47 mandatos e os votos depositados por 143.200 eleitores, num acto eleitoral que registou uma abstenção de 44,5%.
Contudo, também importa ver o número de votante obtidos pelo PS em cada sufrágio e as percentagens em relação ao total dos votos expressos:
Eleição/ Votantes no PS-M (% do total)
· 27/06/1976 – 23.968 (22,34%)
· 05/10/1980 -18.606 (15,00%)
· 14/10/1984 – 18.553 (15,33%)
· 09/10/1988 – 21.058 (16,79%)
· 11/10/1992 – 29.443 (22,51%)
· 13/10/1996 – 33.790 (24,84%)
· 15/10/2000 – 27.290 (21,04%)
· 17/10/2004 – 37.751 (27,41%)
· 06/05/2007 – 21.692 (15,42%)
· 09/10/2011 – 16.945 (11,50%)
· 29/03/2015 – 14.573 (11,43%)
· 22/09/2019 – 51.207 (35,76%)
· 24/09/2023 – 28.844 (21,30%)
· 26/05/2024 – 28.981 (21,32%)
Nesta vertente é inegável que foi em 2019 que o PS alcançou o maior número de votos ficando a menos de 5 mil do partido vencedor e a sua melhor percentagem da história. Na altura, o cabeça-de-lista foi Paulo Cafôfo, lugar que agora repete, tal como aconteceu nas antecipadas de 26 de Maio de 2024. Tornou-se conhecido por ter encabeçado a lista que retirou pela primeira vez o poder ao PSD na Câmara Municipal do Funchal, em 2013, e por ter desempenhado o cargo de secretário de Estado das Comunidades no último Governo PS de António Costa.
Liderou a autarquia do Funchal entre 2013 e 2019, ano em que deixou o cargo para candidatar-se às ‘Regionais’. Em 2020 foi eleito presidente do PS-M, mas demitiu-se em Setembro de 2021 alegando o mau resultado do partido nas eleições autárquicas. Em Março de 2024, encabeçou a lista socialista de candidatos pelo círculo da Madeira à Assembleia da República e foi eleito deputado.
O PS mantém o estatuto de maior partido da oposição madeirense, mas sofreu uma forte quebra de 14 pontos percentuais na votação de 2023, passando de 19 deputados para 11, o que levou à saída do então líder regional, Sérgio Gonçalves.
Paulo Cafôfo voltou então a candidatar-se à liderança da estrutura regional do partido, sem opositor, e foi reeleito - tal como este ano – embora sem conseguir repetir a proeza de 2019.
Nas eleições do ano passado, o PS-M denotou estagnação, não superando os 21% dos votos e 11 deputados, resultado idêntico ao de 2023, o que tornou impossível uma solução alternativa de poder ao PSD - que não conseguiu uma vez mais vencer com maioria absoluta -, apesar da tentativa de acordo ensaiado durante quatro horas com o JPP.
O PS-M, que tem como principal objectivo afastar o PSD da governação, tem sido habitualmente o segundo maior partido mais votado na Região ao longo de cinco décadas de democracia. Por duas vezes não conseguiu tal feito, a primeira das quais em 2011, sendo ultrapassado na ocasião pelo CDS, o que viria a repetir-se quatro anos depois.
O PS teve o pior resultado global da história de democracia regional quando decidiu coligar-se com o PTP, o PAN e o MPT, em 2015, quando obteve seis mandatos, 14.573 votos (11,43%) e foi a terceira força nessas eleições quando a liderança do partido estava nas mãos de Victor Freitas. Em termos de mandatos, o pior ano foi o de 1980 com apenas 5 eleitos, apenas no Funchal: João da Conceição, Emanuel Jardim Fernandes, António Loja, Gil Martins e Duarte Caldeira Ferreira.