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Porta 33 assinala o regresso de Ana da Silva à Madeira com uma exposição que cruza som, imagem e memória

'NOISE' celebra a obra singular da artista madeirense e figura central do pós-punk internacional

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PORTA 33

A Associação Quebra Costas Centro de Arte Contemporânea - Porta 33 abre portas este sábado, 6 de Dezembro, à exposição 'NOISE', que marca o regresso de Ana da Silva à sua ilha natal. Figura maior do pós-punk internacional e cofundadora das The Raincoats, a artista madeirense traz ao Funchal um conjunto de obras que atravessam décadas de prática musical e visual. A mostra, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, integra o programa dos 35 anos da instituição e ficará patente até 29 de Abril de 2026.

A inauguração arranca às 17 horas, mas ganha fôlego uma hora depois, com uma conversa entre a artista e o curador e com a apresentação, pela primeira vez na Madeira, do livro Shouting Out Loud: Lives of The Raincoats (2025), onde a investigadora Audrey Golden revisita a história da banda e a sua influência na música independente.

Ana da Silva nunca separou o gesto musical da experimentação visual e a mostra 'NOISE' faz disso ponto de partida. A exposição reúne séries inéditas, obras recentes, objectos pessoais, fotografias, capas de discos, cartazes e vinis que traçam ligações diretas entre o ruído das guitarras e a textura da pintura. Há peças emblemáticas, como trabalhos da série Noise, a capa do álbum Island, uma colaboração com a artista japonesa Phew, ou a blusa “Madeira”, usada no primeiro concerto das The Raincoats, em 1977, em Londres.

A influência das The Raincoats continua a atravessar gerações. No livro agora apresentado no Funchal, Golden recorda a ética feminista e anti-autoritária que marcou a banda e que inspirou artistas como Kim Gordon, Beth Ditto, Bikini Kill ou Sleater-Kinney. A admiração chegou a nomes como Thurston Moore e Kurt Cobain, que em pleno auge de Nirvana procurou Ana da Silva numa loja de antiguidades em Londres para encontrar um exemplar esgotado do primeiro álbum do grupo, um episódio que se tornaria conhecido graças ao livreto de Incesticide.

'NOISE' regressa também às primeiras raízes da artista. Aos 15 anos, uma visita ao Louvre ajudou a despertar a vontade de pintar, vontade essa que trouxe de volta para a Madeira, então afastada das grandes correntes culturais internacionais. A partir daí, o som e a imagem tornaram-se linguagens que a artista foi sempre desmontando, recompondo e cruzando.

A exposição assume-se como uma espécie de cartografia aberta, uma prática em movimento, onde o ruído se transforma em forma e a memória volta para casa para ganhar novos contornos.

A mostra poderá ser visitada de quarta a sábado das 15 às 18 horas no número 33 da Rua do Quebra-Costas, a partir de amanhã e até Abril de 2026.