Média de passageiros afectados pelo vento subiu 568% na última década
Eduardo Jesus demonstrou, em Macau, o quanto a operacionalidade do Aeroporto da Madeira está amarrada a teses obsoletas
A média anual de passageiros afectados pelo vento aumentou 568% na última década, desde que foram instalados os novos anemómetros no Aeroporto Internacional da Madeira, em 2014, revelou esta quarta-feira o secretário regional do Turismo, Ambiente e Cultura, Eduardo Jesus, orador na segunda sessão do 50.º Congresso da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que está a decorrer em Macau.
Entre 2005 e 2014, quando vigoravam os anemómetros convencionais, a média de passageiros afectados pelos ventos no Aeroporto da Madeira era de 12.630 por ano. Em 2015, após a substituição dos aparelhos de medição pelos convencionais, e até ao dia de hoje, esse número disparou para 84.430, de acordo com a apresentação do secretário com a pasta do Turismo.
Contas feitas, são mais 71.903 passageiros afectados por ano. “Estou quase a ir apanhar o avião ao aeroporto de Lisboa”, atirou em tom de ironia, o governante madeirense.
Orador do painel da ‘sessão 2: Infra-estruturas… Ou a falta delas…’ do Congresso da APAVT, Eduardo Jesus levou a palco ‘uma história de temporais… ou talvez não!’,. Uma oportunidade para, com algum humor à mistura, disfarçar a impaciência em relação à revisão dos limites operacionais com vento, reivindicada há muito pelo Governo Regional.
Eduardo Jesus fez uma retrospectiva histórica sobre o desenvolvimento e os progressos obtidos em termos estruturais, científicos e técnicos na aviação civil e na aeronáutica. Tudo para explicar aos congressistas que os madeirenses não se podem conformar em aceitar os limites operacionais fixados a partir de meios como o Dakota DC-3, que serviu a II Guerra Mundial e que já era considerado um avião obsoleto à data da inauguração do Aeroporto da Madeira, em 1964.
A ampliação da pista em 73,6% (actualmente nos 2.781 metros); a introdução de equipamentos de nova geração com maior rigor e fiabilidade; as aeronaves mais modernas, com capacidade de monitorização, tecnologicamente mais evoluídas e preparadas para identificar ‘windshear’; os pilotos apoiados por simuladores avançados e com formação reforçada e avaliada periodicamente. Estes são factores que deveriam entrar na equação do cálculo dos novos limites da operação das aeronaves com vento na Madeira, defendeu o governante madeirense.
O windshear está a ser combatido com uma arma inadequada eventualmente aceitável há 60 anos, num momento quase pré-histórico da aviação moderna. Hoje o efeito colateral é imensuravelmente maior do que o próprio fenómeno" Eduardo Jesus
Eduardo Jesus disse que não defende nenhuma tese "kamikaze", pois ele próprio é um acérrimo viajante. “Ninguém é irresponsável para defender soluções que não garantem a segurança de passageiros. No entanto, a segurança tem sido a desculpa mais fácil, mais cómoda, e mais inútil que tem protegido aqueles que se cristalizaram no tempo”, apontou o governante madeirense, que recorda que o único acidente causado pelo ‘windshear’ em Portugal não se verificou na Madeira e não impôs qualquer limite de vento à operação desse aeroporto.
Em Macau, revelou aos operadores turísticos presentes no congresso, que 80% dos voos divergidos registavam até 3 nós acima dos limites fixados, quando as aeronaves que operam actualmente estão certificadas para suportar até 38 nós de vento cruzado (limite actual são 15 nós).
Eduardo Jesus lembrou ainda que nas últimas duas décadas, 70,81% da inoperacionalidade registou-se nos últimos 10 anos, precisamente após a mudança dos anenómetros e que o impacto passou de uma média de 2 para 6 dias.
Factos que são inconcebíveis numa região onde o turismo representa 30% do PIB, concluiu Eduardo Jesus, que arrancou aplausos da plateia de congressistas, maioritariamente composto por representantes do sector.
“Ou as alterações climáticas marcaram dia e hora para chegar à Madeira e bateram-nos à porta, ou então alguma coisa ficou por corrigir lá atrás”, ironizou o secretário regional com a pasta do Turismo, arrancando risos da plateia. “A simples mudança de anemómetros agravou esta realidade para o dobro”, concluiu o secretário regional do Turismo.
O governante espera agora que o secretário de estado das Infra-estruturas e Habitação, Hugo Espírito Santo, agilize a revisão dos novos limites de operação das aeronaves com vento no Aeroporto da Madeira, através do grupo de trabalho criado em 2017 e que junta várias entidades, entre as quais: ANAC, NAV, IPMA, TAP, SATA e ANA.