“Isto é um bloqueio à circulação dos madeirenses”
Um grupo de caminheiros e amantes da montanha concentrou-se hoje de manhã no início da PR2, na Fajã dos Cardos, no Curral das Freiras, numa acção de protesto contra as medidas que o Governo Regional pretende implementar a partir de Janeiro de 2026 no acesso a trilhos, levadas e veredas da Região. A iniciativa foi promovida por Jorge Quintal, caminheiro conhecido na Região, que acusa o Executivo de limitar o direito dos residentes a usufruírem do património natural.
“Isto é um bloqueio à circulação dos madeirenses”, afirmou Jorge Quintal, considerando que a obrigatoriedade de inscrição prévia numa plataforma digital representa uma restrição inaceitável. “É como proibir uma pessoa de entrar em casa”, acrescentou, sublinhando que caminhar nas levadas e nos trilhos faz parte da identidade e do quotidiano de muitos residentes.
O promotor da iniciativa reconheceu a necessidade de regras e de medidas de segurança, mas criticou o modelo anunciado. “É preciso tomar medidas, mas não é desta forma”, disse, alertando para o risco de exclusão dos madeirenses. Segundo explicou, a plataforma que irá gerir os acessos poderá ficar permanentemente esgotada. “A plataforma estará sempre cheia e vai ser muito difícil aos madeirenses terem acesso às levadas e aos trilhos”, advertiu.
Jorge Quintal lamentou ainda que os caminheiros e utilizadores habituais não tenham sido envolvidos no processo. “Neste estudo que foi feito não fomos ouvidos”, afirmou, defendendo que qualquer decisão deveria ter contado com a participação de quem conhece e utiliza regularmente os percursos.
Durante a concentração, os participantes defenderam que trilhos, levadas e veredas constituem um património único, construído ao longo de gerações, e que não deve ser condicionado por regras que consideram desproporcionadas para os residentes. A PR2, que liga o Curral das Freiras à Boaventura e ao Pico Ruivo, foi apontada como um percurso simbólico dessa ligação histórica à montanha.
Quanto aos próximos passos, Jorge Quintal revelou a intenção de avançar com um abaixo-assinado para levar o tema à Assembleia Legislativa da Madeira. “Vamos fazer um abaixo-assinado, mas as pessoas falam, apoiam, mas quando se trata de dar a cara têm medo”, afirmou, apelando à mobilização da população.
Para o promotor da iniciativa, a questão é de princípio. “O madeirense não pode ser lesado e tem de ter livre acesso. É uma questão de princípio”, concluiu.
Os organizadores consideraram esta acção um sinal de contestação pública às medidas anunciadas e garantiram que irão continuar a acompanhar o processo, exigindo que o direito de circulação dos madeirenses seja salvaguardado na gestão futura dos trilhos e levadas da Região.