Um mundo sem autoridade

Hoje ninguém manda em nada. A polícia tem de pedir por favor, os professores têm medo de repreender, os médicos passam o tempo a justificar-se para não levar processo. O mundo virou uma sala cheia de crianças zangadas, todas a gritar “faço o que quero!”. E quem deveria dizer “não” está amarrado de mãos atrás das costas, com regulamentos, queixas e “direitos individuais” usados como escudo para a irresponsabilidade.

Antes, autoridade não era abuso. Era ordem. Era o básico que mantinha as coisas a funcionar: o polícia separava a briga, o professor ensinava, o médico decidia o que era melhor para tratar o doente. Hoje, qualquer indivíduo com 4 pesquisas no Google acha que sabe mais. Confunde opinião com competência. Pior: exige ser respeitado sem estar disposto a respeitar quem sabe.

Perdemos a noção simples de que a autoridade não nasce do berro, nem do cargo. Nasce da função. A polícia existe para proteger, não para negociar. O professor existe para ensinar, não para competir com o aluno em likes de Instagram. O médico existe para curar, não para fazer publicidade ao tratamento que o paciente quer ouvir.

Vivemos num tempo em que a liberdade virou desculpa para a indisciplina. E a democracia, que devia equilibrar direitos e deveres, transformou-se em megafone para o ego: “ninguém manda em mim”. Não admira que o país pareça uma casa sem adultos.

A autoridade não é inimiga da liberdade. É o que a torna possível. Sem ela, ficamos com uma sociedade de caprichos, onde cada um inventa as suas próprias regras. Um mundo assim não cresce. Apenas desobedece.

Se queremos uma sociedade madura, temos de recuperar o básico: quem sabe, manda; quem não sabe, aprende.

António Rosa Santos