A saúde mental já não explica tudo
Filhos que matam pais. Maridos que matam mulheres. Jovens que entram numa escola para tirar vidas. Casos que há uns anos seriam impensáveis tornaram-se quase rotina. Ligamos a televisão e lá está mais uma tragédia, mais uma história absurda que se repete com nomes diferentes. E nós, cada vez mais anestesiados, mudamos de canal e seguimos com o dia.
Hoje fala-se muito em saúde mental, e ainda bem. Mas há uma verdade que poucos querem admitir: nem tudo se resolve com psicólogos e comprimidos. O que falta à sociedade não é apenas equilíbrio emocional. Falta-nos educação moral, respeito, valores e noção de limite.
Os pais têm medo de corrigir os filhos. As escolas ensinam fórmulas, mas não ensinam carácter. E o Estado, em vez de restaurar autoridade e responsabilidade, prefere campanhas coloridas que nada mudam. Crescemos a ouvir que cada um deve “seguir o seu coração”, mas esquecemo-nos de ensinar que o coração também precisa de regras.
Vivemos rodeados de ecrãs e opiniões instantâneas. Confundimos liberdade com falta de responsabilidade. A vida humana perdeu o peso que tinha, é só mais uma notícia, mais um vídeo viral. Falta empatia, falta ligação. As pessoas vivem desligadas umas das outras, como peças de um mecanismo que já ninguém controla.
Por isso, antes de culparmos apenas a saúde mental, talvez devêssemos olhar para o vazio moral que deixámos crescer. A loucura de hoje é também o reflexo de uma sociedade que deixou de acreditar em algo maior do que si própria. E enquanto não voltarmos a valorizar o essencial, a vida, a família, o trabalho, o respeito, continuaremos a colher o que semeámos: indiferença, violência e desumanidade.
António Rosa Santos