Exposição fotográfica 'Poesia da ilha pelo buraco da agulha' para ver no Centro Cultural de Investigação
No próximo dia 21 de Novembro será inaugurada no Centro Cultural de Investigação do Funchal, na Sala Multiusos, a exposição fotográfica analógica 'Poesia da ilha pelo buraco da agulha'.
O projecto artístico e cultural, idealizado e coordenado por Marco Gonçalves, encontra-se inserido na iniciativa 'Das ideias aos Actos' promovida pelo Teatro Nacional D. Maria II e pela Fundação Calouste Gulbenkian, com o apoio da Câmara Municipal do Funchal. Em nota enviada, é referido que este assenta no potencial "didático e cultural intrínseco à poesia e à fotografia para capacitar pessoas lusodescendentes e imigrantes residentes na região, para uma maior aprendizagem da língua portuguesa e para a produção artística."
"A interpretação de poemas de autores madeirenses, que celebrem a ilha/a cidade, foi um dos elos facilitadores dessa aprendizagem, como forma de transmitir os eixos base da nossa identidade como povo, do nosso sentir, pensar e agir." A fotografia complementou este apelo à integração na comunidade local, ao estabelecer um diálogo com os poemas seleccionados através de imagens criadas com câmaras estenopeicas analógicas (pinhole), construídas pelos próprios participantes a partir de materiais reciclados. Este tipo de equipamento é desprovido de lente, sendo que a imagem é formada através da passagem da luz por um orifício criado por uma agulha (daí o nome do projecto).
Esta mostra multidisciplinar, é o resultado de um conjunto de sessões dinamizadas por Idalina Camacho, Marco Gonçalves, Natércia Xavier e Sandro Nóbrega. Nelaé possível encontraer não só as fotografias em papel de gelatina e sais de prata, que os participantes captaram, como também os vídeos onde declamaram poemas de notáveis madeirenses.
Manifesto do projecto
A Região Autónoma da Madeira apresenta avtualmente uma comunidade estrangeira em crescimento, numa representatividade de 5,5% da população residente. Apesar da prevalência de pessoas oriundas da Venezuela, consequência da diáspora madeirense, existem outras comunidades imigrantes que também atingem números expressivos, tais como os nacionais do Reino Unido, Brasil e Alemanha.
Quando as comunidades são significativas, é comum a ocorrência de processos que facilitem a integração dos seus membros. Contudo, verifica-se que existe uma assinalável diversidade entre os imigrantes que residem na região, num total de 123 nacionalidades diferentes. Para muitos, é essencial aprender (ou aperfeiçoar) os seus conhecimentos da língua portuguesa, para se integrarem na sociedade local.
Este projevto assenta no potencial intrínseco à poesia e à fotografia, para que se estabeleçam pontes criativas, numa promoção do diálogo, da expressão individual e do sentimento de pertença nesta nossa sociedade diversa. Propõe-se como uma extensão das soluções já implementadas por entidades públicas e privadas, com o propósito de facilitar a aprendizagem da língua portuguesa e de capacitar pessoas lusodescendentes na senda das suas origens e emigrantes residentes na região. Concomitantemente, visa democratizar o acesso à cultura, promover a inclusão social e fortalecer o tecido social, através de sessões orientadas que apelem a práticas artísticas, dinamizadas por pessoas de quadrantes diferentes, mas sempre ligadas à língua, à cultura, às comunidades e às artes.
A poesia será o elo facilitador da aprendizagem e do saber. O contacto com a sonoridade da nossa língua, de uma forma envolvente e memorável, numa maior riqueza lexical, facultará aos participantes no projeto, uma aprendizagem mais motivante e sustentada. Essa capacitação passará pelo apelo à interpretação, à criatividade e à apreciação cultural. Também pelo estabelecimento de conexões empáticas entre a língua portuguesa e a língua nativa da pessoa expatriada.
A cidade do Funchal e a ilha da Madeira têm sido mote na obra de alguns dos mais notáveis poetas madeirenses, entre os quais destacamos Herberto Helder, António Aragão, João Carlos Abreu, José Tolentino Mendonça, José Agostinho Baptista, Irene Lucília Andrade, Maria Aurora Carvalho Homem e José António Gonçalves. Estes, e ainda outros autores por referir, produziram obras que se constituem como um dos esteios da nossa identidade e que merecem valorização. Será promovida, entre os participantes no projeto, a leitura e interpretação de poemas de autores madeirenses, que celebrem a ilha/ a cidade, como forma de transmitir os eixos base da nossa identidade como povo, do nosso sentir, pensar e agir.
A fotografia será outro elo que complementará a corrente criada pela poesia, num constante apelo ao percurso emocional do indivíduo. Será promovido um diálogo entre os poemas selecionados e as imagens, no sentido de reforçar e/ ou de lhes atribuir novos significados. A captação será realizada através de câmaras fotográficas analógicas estenopeicas (pinhole), construídas a partir de latas de metal recicladas da indústria alimentar, sendo que o suporte fotossensível será papel fotográfico à base de gelatina e sais de prata. Este tipo de equipamento é desprovido de lente, sendo que a imagem é formada através da passagem da luz por um orifício criado por uma agulha (daí o nome do projeto). É uma excelente metáfora para a importância das pequenas coisas, pois apesar da reduzida dimensão desse estenopo, é possível criar imagens de relevante significado e simbolismo.
Esta lenta forma de fotografar, é um estímulo para a contemplação das coisas simples da vida e um convite ao desacelerar, numa Era do rápido consumo e da satisfação imediata. É uma chamada para a valorização da ilha e da cidade, não só pelas suas paisagens, suas particularidades naturais, suas gentes, sua arquitetura e características urbanas, como também pela valorização dos seus poetas.
Sobre Marco Gonçalves
(n. Funchal, 1974), é Mestre em História e Cultura das Regiões pela Universidade da Madeira e licenciado em Artes Plásticas pelo Instituto Superior de Arte e Design / Universidade da Madeira. Docente profissionalizado no ensino básico, na área de Educação Visual e Educação Tecnológica, pela Secretaria Regional de Educação da Região Autónoma da Madeira, está colocado no quadro da Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco. Encontra-se em funções docentes no serviço educativo do Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s.
Expõe esporadicamente como artista plástico e fotógrafo desde 1991. Tem trabalho publicado, a nível regional e nacional, na área do design e da fotografia, com especial destaque para a Emissão filatélica CTT “Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s” (2020) e “Arte automóvel de Ricardo Veloza“, de Eduardo Jesus, SRTC (2021) e “Catálogo Geral das Coleções Vol. I”, Coord. Emília Tavares e Alexandra Encarnação, SRTC (2022). Ilustrou mais de 30 obras literárias de autores de relevo nacional e regional tais como Carlos Fino, David Pinto-Correia, Ernesto Rodrigues, Francisco Fernandes, João Rui de Sousa, José António Gonçalves, Maria Aurora Homem (entre outros), para diversas editoras como a Editorial Éter, Editora Ausência, Editora Exodus, Nova Delphi. Tem também obra na área da ilustração científica, em diversas publicações de revistas internacionais da especialidade.