Manipular informação é mais fácil do que verificar e não alcança o mesmo público
O responsável pelo departamento de 'fact-checking' da agência espanhola EFE, Sergio Hernández, alerta que a manipulação de informação é mais fácil e rápida do que a verificação de factos, que não consegue alcançar o mesmo público.
"A verificação é mais lenta do que a manipulação, porque enganar e gerar dúvidas sem provas é mais fácil do que investigar, refutar e esclarecer", diz Sergio Hernández, à agência Lusa.
O responsável salienta que a eficácia das negações é limitada, uma vez que muitos casos não atingem os mesmos públicos que foram expostos às falsidades, embora o 'fact-checking' seja "uma ferramenta essencial para o jornalismo lidar com tentativas de manipulação".
Neste sentido, "a desinformação é um problema complexo que exige uma resposta multidisciplinar e flexível para se adaptar aos desafios constantes", afirma Sergio Hernández.
O responsável da EFE Verifica defende que a verificação de factos faz parte desta solução, embora tenha limitações relacionadas com a rapidez e alcance, pelo que "tem de se fazer um esforço constante, porque a desinformação não é um problema que possa ser resolvido e esquecido, vai sempre conviver" em sociedade.
Para Sergio Hernández, em Portugal e Espanha "há semelhanças na disseminação de falsas narrativas", bem como "um uso frequente de publicações enganadoras que afirmam que certos eventos ocorreram em momentos e locais em que não ocorreram".
Entre os canais em que a desinformação circula, os dois países têm em comum o Facebook e o WhatsApp como vetores de falsidades e partilham alguns grupos alvo, como os imigrantes e a comunidade LGBT.
Segundo pesquisa do Observatório Ibérico de Medias Digitais (Iberifier), do qual a EFE Verifica e a Lusa são membros, há questões recorrentes que polarizam o debate público. Neste contexto, destacam-se as narrativas anti-imigração, que criminalizam os cidadãos estrangeiros, apresentando-os como um fardo económico e uma ameaça à segurança.
A desinformação de género também é frequente, atacando mulheres na política e promovendo reações contrárias ao feminismo, sendo que teorias da conspiração e publicações que negam as mudanças climáticas também são observadas.
Sergio Hernández acredita que diante das falsidades estão os verificadores de factos e o jornalismo como um todo, embora "nenhuma destas respostas seja perfeita".
Desta forma é necessário "trabalhar na literacia mediática, como elemento fundamental para promover a resiliência da sociedade e a promoção do pensamento crítico, manter a colaboração entre verificadores, bem como com investigadores universitários".
"Avançar no desenvolvimento tecnológico, com programas que melhorem o combate à desinformação e diálogo com instituições públicas para adoção de medidas efetivas contra a disseminação de falsidades" são também algumas estratégias referidas pelo responsável para combater a fenómeno desinformativo.
Lançado em 2019, o EFE Verifica é o serviço de verificação de factos da agência de notícias espanhola EFE, com o objetivo de responder à crescente desinformação, oferecer informação contra falsidades e conhecimento para os cidadãos aprofundarem a sua capacidade crítica face às notícias.