Troca de acusações entre PS e Chega obriga a intervenção de Aguiar-Branco
Uma troca de acusações entre PS e Chega gerou hoje um momento de tensão no encerramento do debate do Orçamento do Estado, e levou à intervenção do presidente da Assembleia da República para garantir o "funcionamento da democracia".
Depois da intervenção do líder do Chega, na qual André Ventura acusou o PS de ter instalado no país a "nacional corrupção", o líder parlamentar socialista pediu palavra para fazer a defesa da honra da sua bancada.
Eurico Brilhante Dias assinalou que o PS é um partido com mais de 50 anos e referiu que o Chega, com seis, "não conseguiu ter uns estatutos aprovados pelo Tribunal Constitucional".
O socialista leu depois uma lista com crimes alegadamente imputados a vários elementos do Chega, entre os quais roubo, extorsão, assalto a caixas de esmolas, prostituição de menores, roubo de malas ou fogo posto.
Eurico Brilhante Dias foi sendo constantemente interrompido por ruído e protestos de deputados do Chega e fez questão de recomeçar a ler a lista várias vezes.
Estas interrupções levaram à intervenção do presidente da Assembleia da República, que lembrou o plenário de que "há regras em democracia" e que, enquanto estiver a presidir aos trabalhos, "a democracia funciona", garantindo que não aceitará "técnicas para boicotar o exercício da democracia".
"A democracia vai funcionar, vai continuar, independentemente das tentativas de criar incidentes para amanhã fazerem manchete de imprensa", advertiu José Pedro Aguiar-Branco.
Eurico Brilhante Dias salientou que "três Salazares não serão suficientes para calar o PS" e que, por cada, "três Mário Soares se levantarão para combater o fascismo".
Na resposta, o líder do Chega disse que falou em "corrupção do PS depois de o PS insistentemente ter falado em nacional corporativismo".
André Ventura referiu que Eurico Brilhante Dias tinha uma folha, mas "para defender a honra do PS era preciso resmas de papel", e de seguida deixou cair várias folhas ao chão.
E considerou que antes ter alguém acusado de roubar caixas de esmolas "do que um país inteiro".
"Basta um André Ventura para vos limpar desta casa", rematou.
No final da intervenção, o presidente do Chega foi apanhar os papéis que deitou ao chão, depois de mais um reparo de Aguiar-Branco, que considerou a atitude desrespeitadora.
No encerramento do debate sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano, André Ventura justificou o voto contra do Chega com várias críticas à proposta apresentada pelo Governo.
O líder do Chega sustentou que "este é um mau orçamento para Portugal", porque "continua a fazer o mesmo que o PS fez, tirar a uns e dar a outros", e tem prioridades erradas.
"Tirar a quem trabalha ou trabalhou, tirar a quem teve que sustentar o país, para continuar a dar a uma classe de privilegiados, quer seja a classe política, quer seja a classe económica ligada ao poder, quer seja um conjunto de pessoas que não querem trabalhar, que desistem de trabalhar e que continuam no nosso país a viver de subsídios", criticou.
"O orçamento que vamos votar diz-nos que o caminho é o mesmo. O caminho que o PS já tinha percorrido é o caminho que o PSD quer percorrer", criticou, defendendo que "o país vai-se tornando cada vez pior" e considerando que Portugal se está a tornar "numa favela".
O deputado acusou o Governo de fingir "descer impostos", para depois "ir sacar aos combustíveis que os portugueses pagam todos os dias nas bombas de gasolina", classificou a política de saúde como "um desastre absoluto" e afirmou que "o IVA zero no cabaz alimentar é mesmo para ir para a frente".